“Toda fotografia poderosa tem uma história igualmente poderosa”, diz o narrador. E é exatamente nisso que a série acerta: Tales by Light nos permite observar o outro lado da fotografia, tornando-a ainda mais significativa para o observador.
Conhecer a realidade que está sendo retratada tem uma grande participação nisso. O lado National Geographic da série cumpre sua função ao nos apresentar a lugares distantes, animais selvagens e culturas isoladas. As imagens, perfeitamente captadas, nos permitem formar nossa própria perspectiva sobre o assunto da foto: ela se torna algo pessoal, muito mais nosso.
O episódio 6, centrado na jornada do fotógrafo Art Wolfe, é um exemplo disso. Wolfe tem como principal projeto fotografar culturas que inevitavelmente mudarão, engolidas pela cultura normativa. Assim, em Papua Nova Guiné, acompanhamos sua visita a um povo indígena tradicional.
Assim como jornalistas editam seus textos, adicionando e retirando diferentes partes da realidade para contar determinada história, por que uma fotografia não pode fazer o mesmo e editar o material para mostrar o todo?
De pinturas a rituais raros, passamos a conhecer a história desse povo e ressignificá-la em nossos próprios termos. Elas passam de realidades desconhecidas a algo com que temos uma relação emocional, resultando numa percepção muito diferente.
Enquanto isso, estamos vendo o fotógrafo agir. Observamos Richard I’Anson e sua equipe passando dias no Himalaia em busca do leopardo das neves, tão raro quanto uma agulha no palheiro. Nos assustamos com Krystle Wright quando o motor do parapente de um dos membros da equipe parou de funcionar em pleno ar. Acompanhamos Darren Jew na beira de um vulcão que poderia entrar em erupção a qualquer momento. A gente fica impaciente, curioso, estimulado, tudo junto com o fotógrafo.
Experienciamos o mundo e acompanhamos sua transformação em imagem. E talvez por isso mesmo a série seja tão especial.
E, para os aprendizes de fotografia…
![Fotografia de Art Wolfe, em tribo indígena da Papua Nova Guiné Fotografia de Art Wolfe, em tribo indígena da Papua Nova Guiné](http://www.aescotilha.com.br/wp-content/uploads/2018/07/tales-by-light-abraham-joffee-215x300.jpg)
… a série também traz alguns ensinamentos técnicos. Ideias, inspirações e até mesmo discussões teóricas nos colocam na posição do fotógrafo.
Peter Eastway, fotógrafo participante do quinto episódio, vê a fotografia como uma mistura de registro e interpretação: para ele, a edição é parte fundamental de seu trabalho. Em meio a isso, menciona fotógrafos de guerra que foram mal vistos por editar suas imagens.
Mas, Peter coloca, por que é tão imposto à fotografia ser a cópia exata do real? Assim como jornalistas editam seus textos, adicionando e retirando diferentes partes da realidade para contar determinada história, por que uma fotografia não pode fazer o mesmo e editar o material para mostrar o todo?
A sensação que fica é de que a série cumpriu além de seu propósito. Ela entretém e ensina enquanto causa um verdadeiro movimento dentro de nós. Art Wolfe diz que suas fotos procuram inspirar as pessoas a viajar e ver coisas diferentes do lugar onde vivem. Tanto sua produção quanto a série cumprem esse objetivo: até deu vontade de visitar o Himalaia, ir para o Holi, ver a África, fotografar ursos pardos e andar de parapente. Agora só falta uma série que me inspire a perder o medo de andar de avião.