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Em ‘Tese Sobre Uma Domesticação’, Camila Sosa Villada imagina uma ficção científica travesti

No incômodo 'Tese Sobre Uma Domesticação', a escritora argentina Camila Sosa Villada propõe falar de uma atriz em um mundo que não existe.

porMaura Martins
31 de julho de 2024
em Literatura
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A escritora argentina Camila Sosa Villada. Imagem: Divulgação.

A escritora argentina Camila Sosa Villada. Imagem: Divulgação.

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Para falar de uma obra da escritora argentina Camila Sosa Villada, é inevitável ressaltar que estamos nos referindo a uma artista que, mesmo com poucas publicações, já foi capaz de criar um ethos próprio, o qual chamei, em outro texto, de um “universo travesti“: um imaginário e um espaço de existência literário para ser ocupado e explorado por muitas outras escritoras como ela.

Parece-me que, em Tese Sobre Uma Domesticação (editora Companhia das Letras, 2024, tradução de Silvia Massimini Felix), Camila leva sua proposta a um ponto alto, ao elaborar um romance que ela mesma define como ficção científica. Obviamente, trata-se de um chiste: ela assim categoriza a obra porque imagina aqui uma atriz travesti linda, bem-sucedida e com uma “família Doriana”. Ou seja, o gênero se encaixaria como uma provocação, pois se fala de uma mulher que não existe – ou que ao menos só poderia existir no futuro.

A atriz, que nunca é nomeada, é um fenômeno. É irresistível aos homens, que caem aos seus pés, e dona de um talento que conquista as plateias e a crítica. Ela está às voltas de uma montagem teatral de A Voz Humana, de Jean Cocteau (recentemente adaptada ao cinema por Pedro Almodóvar). Em casa, é esperada-por um marido gay lindo e herdeiro e pelo filho que ambos adotaram, e a quem os dois conseguem dar tudo.

Com seu texto ferino e pungente, Camila Sosa Villada está disposta a provocar-nos a pensar o quanto a atriz precisou se “domesticar” para caber em uma forma (e fórmula) que a escapa o tempo todo.

Seria viável que essa família sobreviva dentro dessa vida heteronormativa? Com seu texto ferino e pungente, Camila Sosa Villada está disposta a provocar-nos a pensar o quanto a atriz precisou se “domesticar” para caber em uma forma (e fórmula) que lhe escapa o tempo todo. O desejo ao belo marido lhe escapa (afinal, ele é gay: seu lance são os corpos masculinos), e ela também precisa da agressividade vinda do diretor da peça, e da rusticidade de um homem simples que a salvou, ainda menina, de um estupro.

O que vamos entendendo, ao longo da leitura, é que, mesmo que Camila tenha elaborado um mundo para si e para as suas iguais, esse mundo não é necessariamente belo. Ao menos não o tempo todo. Escreve Camila: “ela age como uma esposa que nunca agradecerá o suficiente por essa vida doméstica. Mas, assim como no teatro, um monólogo paralelo acontece enquanto finge ser outra”.

Sobre se encaixar

Camila Sosa Villada foi uma das convidadas da Feira do Livro de 2024 em São Paulo. Imagem: Divulgação.

De fato, a atriz conquistou tudo aquilo que podia almejar, não sem enfrentar dificuldades. Mas, ainda assim, há algo em si que jamais vai se satisfazer. Adequada a um mito que é vendido a todas, todos e todes como ideal (de que uma vida de sucesso se faz com dinheiro, carreira e família), sua alma escapa o tempo todo da “jaula” em que se enfiou.

A verdade é que o mundo que ela desejou também a odeia. Mas a atriz travesti não é uma vítima. Como Camila Sosa Villada tece belamente com as palavras, há algo de muito vivo e até tóxico nessa mulher que quis escolher a própria identidade. O atrevimento presente em seu relato só é possível para quem tem lugar de fala: “é assim: basta uma travesti. Uma única travesti é suficiente para revirar a vida de um homem, de uma família, de uma instituição. Uma única travesti é suficiente para minar os alicerces de uma casa, desfazer os laços de um compromisso, quebrar uma promessa, renunciar a uma vida”.

A vida de comercial de margarina, portanto, parece um sonho anti-natural para quem já nasceu escapando da norma. Os corpos dissidentes da atriz – mas também os do seu marido gay, do seu filho com HIV, do meio irmão que luta contra o seu desejo por ela – parecem fadados a flertar com a infelicidade à medida em que tentam ser o que não são.

Camila Sosa Villada declarou, durante a Feira do Livro de São Paulo, que considera este seu melhor livro até o momento. A julgar pela ousadia atingida aqui, pode-se concordar que este romance pouco verossímil faz jus à carreira sem precedentes que a escritora argentina tem construído para si. Se em O Parque das Irmãs Magníficas ela brincava com o realismo fantástico em um conto de fadas travesti, em Tese Sobre Uma Domesticação, Camila mostra amadurecimento ao levar sua literatura a um patamar ainda mais alto e que foge de uma categorização.

TESE SOBRE UMA DOMESTICAÇÃO | Camila Sosa Villada

Editora: Companhia das Letras;
Tradução: Silvia Massimini Felix;
Tamanho: 224 págs.;
Lançamento: Junho, 2024.

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Tags: Camila Sosa VilladaCompanhia das LetrasFicção CientíficaLiteraturaLiteratura Argentina

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