Exposição com obras de artistas trans, travestis, pretos, indígenas e periféricos, TirAção está acontecendo neste mês no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, no extremo leste da capital paulistana. Com entrada gratuita, a mostra busca elaborar novos paradigmas de arte contemporânea na periferia e está em cartaz até o dia 26 de maio.
Revelando a arte excluída pela sociedade
Idealizada pela Cooperativa de Artistas, a exposição tem como objetivo principal trazer à luz a arte contemporânea produzida por pessoas transvestigêneres periféricas, que muitas vezes são marginalizadas pela sociedade.
A curadora do projeto, Lua Lucas, destaca a importância de revelar o que a sociedade exclui. “Sabemos que esses artistas estão à margem na sociedade, e por isso temos o dever de revelar o que a sociedade exclui”.
Arte interseccional, reparação histórica e expansão de margens
A exposição TirAção é um “processo coletivo e interseccional de disputa de narrativas e ação de reparação histórica para corporalidades dissidentes”, comenta Lua. “[Especialmente] no campo elitista que é a arte visual contemporânea”.
A iniciativa teve início em 2022, na Cidade Tiradentes, quando 15 artistas participaram de uma residência de dois meses, durante a qual foram produzidos lambe-lambes, música, faixas, figurinos, cortejos e a performance Quem são seus heróis? Tiradentes foi um escravocrata.
A proposta é formalizar tabus e problemas contemporâneos, como a religião, a marginalidade e a reciclagem, por meio de fotografias, filmes, instalações, performances e costura.
Nesta segunda edição, artistas como Ana Mogli Saura, Ashley Angel, Bioncinha do Brasil, Elix Rodrigues, Jhoweny Orun Soares de Miranda e Puri Yaguarete, junto com Lua Lucas, buscam elaborar novos paradigmas de arte na quebrada.
A proposta é formalizar tabus e problemas contemporâneos, como a religião, a marginalidade e a reciclagem, por meio de fotografias, filmes, instalações, performances e costura. As reflexões avançaram sobre a geografia das margens, questionando por que a ideia de uma vernissage é frequentemente associada a espaços elitizados e exclui a possibilidade de ocorrer em uma quebrada.
Lua Lucas destaca a importância de trazer a exposição de arte para o extremo da zona leste e incentivar a conexão de pessoas que possam dialogar com os jovens da região, impulsionando sua pesquisa e trabalho que geralmente são apagados. “Se os artistas periféricos e favelados vivem processos de exclusão geográfica, por que não trazemos a exposição de arte para cá?”, questiona a curadora.
O papel transformador da Cooperativa de Artistas
A Cooperativa de Trabalho de Artistas é uma Organização da Sociedade Civil gerida por artistas e outros profissionais do bairro Cidade Tiradentes. Desde seu surgimento, em 2015, tem desenvolvido projetos em parceria com o poder público municipal, garantindo a manutenção do trabalho artístico de grupos e coletividades e se tornando um importante instrumento de viabilização de projetos e serviços artísticos e culturais na cidade de São Paulo.
A atuação da cooperativa tem auxiliado a promover uma nova perspectiva em relação ao trabalho e à geração de renda na região, que historicamente tem sido considerada apenas um bairro dormitório. Seu objetivo principal é a inclusão da diversidade e a construção de oportunidades de emancipação das minorias políticas e grupos marginalizados, bem como a promoção de ações de garantia de direitos para crianças, adolescentes, jovens, pessoas negras, mulheres e LGBTQIAP+.
Com a exposição TirAção, a Cooperativa de Artistas reafirma seu compromisso com a arte como ferramenta de transformação social e proporciona um espaço de visibilidade e valorização para artistas que, muitas vezes, são excluídos dos circuitos tradicionais da arte.
O papel dos museus na valorização da travestilidade e na construção de novas epistemologias
Em artigo publicado no site do MAM Rio, a pesquisadora, artista e educadora Shion L escreveu sobre a importância dos espaços de arte se abrirem à travestilidade e transexualidade. Em “Que os museus nos ofertem mais do que imagens”, a pesquisadora afirma que a entrada de travestis e pessoas dissidentes de gênero para projetos expositivos é parte do compromisso pedagógico estabelecido por museus para “tornar estes ruídos dos corpos [em] sonoridades audíveis preenchidas de nitidez”.
Todavia, ela questiona a forma de apresentação. Para Shion L, museus devem ir além das representações tradicionais, comissionando trabalhos que reflitam as experiências trans. Razão pela qual diálogos e parcerias com artistas travestis e transgêneros são essenciais para uma abordagem inclusiva.
Sua defesa da consideração trabalhista e de produção intelectual também ecoa, como um conceito de promoção da transformação e empoderamento dessa parcela da sociedade.
SERVIÇO | TirAção
Onde: até 26 de maio, de terça a sábado, das 10h às 16h;
Quando: Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes – Sala de Exposição, 2º andar (R. Inácio Monteiro, 6900 – Jardim São Paulo | São Paulo/SP);
Quanto: Entrada gratuita.
Mais informações podem ser encontradas no perfil da residência artística no Instagram.
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