O MASP divulgou, em 2017, que apenas 6% das obras expostas no museu foram assinadas por mulheres, enquanto 60% dos nus artísticos em exposição se tratavam de corpos femininos. Essa declaração veio junta ao texto de explicação da exposição feminista Guerrilla Girls: gráfica, 1985-2017 (leia o texto citado na íntegra e entenda o movimento aqui), que ficou em cartaz até fevereiro deste ano na capital paulista.
Esse cerceamento do espaço feminino na arte “mulheres-musas” enquanto “homens-artistas” as representam acontece em todo o mundo e, de acordo com o artigo “Toward Decolonizing Gender – Female Vision in the Upper Paleolithic”, escrito por Catherine Hodge McCoid e Leroy D. McDermott, pode ser mais antigo do que imaginamos.
O artigo, em tradução livre, “Em direção a Descolonização de Gênero – Visão Feminina no Paleolítico Superior”, publicado pela American Anthropological Association, rompe a crença convencionada de que as “Vênus” – esculturas feitas durante a Pré-história em pedras, ossos, marfim ou argila – são representações da fertilidade e abundância feminina esculpidas por homens.

As autoras analisaram a recorrência anatômica: imagem sem rosto, cabeça voltada para baixo, braços finos ou que desaparecem, seios grandes e pendulares, abdômen proeminente (presumidamente gravídico), recorrência de umbigo elíptico, pernas estranhamente curtas e pés desproporcionalmente pequenos e concluíram que é muito mais provável que as Vênus sejam, na verdade, autorretratos.

Esse cerceamento do espaço feminino na arte ‘mulheres-musas’ enquanto ‘homens-artistas’ as representam acontece em todo o mundo.
“Uma mulher olhando para si mesma de cima vê essencialmente a porção superior frontal do tórax e abdômen, com os seios pronunciados.
De modo similar, quando uma mulher olha para a porção inferior do seu corpo, as partes mais distantes do seu olhar parecem menores.
Uma representação correta (em perspectiva) da parte inferior do corpo”, explica o artigo sobre as proporções a partir do olhar da mulher para si mesma na realização do autorretrato.
Assim, o estudo traz uma nova perspectiva da relação feminina com a arte ao provocar uma reflexão crítica acerca das pressuposições patriarcais que envolvem as manifestações artísticas ao longo da história e, que ainda hoje, refletem na produção e circuito artístico, como na recorrência das mulheres-musas de artistas homens nas mostras de importantes museus como o Metropolitan Museum de Nova York e o MASP.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.