“Nós estamos em guerra. O seu mundo e o meu mundo tão em guerra”. A fala de Ailton Krenak ecoa forte em trabalhos como a exposição Terra Terreno Território. Neste momento, a arte indígena brasileira e sobre os indígenas têm ganhado protagonismo, com trabalhos que tensionam a relação com o homem branco.
O trabalho da fotógrafa e artista visual Dani Sandrini, que tem circulado os SESI do estado de São Paulo (no momento, a exposição está em cartaz no SESI Campinas Amoreiras), carrega em si uma fagulha de ousadia.
A artista, que iniciou a carreira na fotografia comercial, une presente e passado para evocar uma questão tão antiga (e negligenciada) quanto a técnica que utiliza: como é ser indígena em grande centros urbanos no Brasil do século XXI.
Com experiência no trato com processos fotográficos alternativos, Sandrini utiliza técnicas de impressão do século XIX, em que esta é feita de modo artesanal em papéis sensibilizados com pigmento extraído do jenipapo, o mesmo que é utilizado pelas comunidades indígenas para as pinturas corporais, e em folhas de taioba, singônio, mavavisco, amora e batata doce.
View this post on Instagram
As técnicas, antotipia e fitotipia, respectivamente, ocorrem a partir da ação da luz do sol nos materiais, processo que varia de três dias a cinco semanas. No material de Terra Terreno Território, a artista visual mostra ao público suas imagens, captadas em aldeias indígenas na Grande São Paulo (cuja predominância recai sobre a etnia Guarani) e no contexto urbano, onde 53 etnias podem ser encontradas, ao longo do ano de 2019.
Cada peça varia entre 10×15 a 50x75cm, e reproduzem cenas do cotidiano dos grupos, além de algumas fotos diretamente posadas. Um processo verdadeiramente delicado e de choque, entre tecnologias, processos e vivências, provocativo diante do risco do apagamento histórico – maior em tempos obscuros do governo de Jair Bolsonaro.
Um processo verdadeiramente delicado e de choque.
Essa, por sinal, é uma das expectativas de Dani Sandrini: discutir a fotografia a partir de seu caráter memorialístico e documental, dando novas perspectivas a ela. “A certeza é a transformação. A foto não congela o tempo. Os suportes que aqui abrigam as fotografias geram outros significados”, afirma Sandrini.
Como disse Vanuza Kaimbé, primeira indígena brasileira a ser vacinada contra o coronavírus, “as cidades invadiram os territórios indígenas”[1], então também cabe à arte lembrar o óbvio. “O Brasil todo é terra indígena, o Brasil é pindorama. Não existe essa separação.”[2]
No Instagram de Terra Terreno Território é possível acompanhar partes do processo de elaboração da exposição, ouvir trechos de falas da artista e fotógrafa, além de acompanhar algumas das peças que compõem o projeto. Se estiver por Campinas, a exposição fica em cartaz até 1º de outubro. De lá, segue para o SESI São José do Rio Preto para, então, chegar em São Paulo no próximo ano. A curadoria é de Wagner Souza e Silva.
SERVIÇO | Terra Terreno Território
Onde: SESI Campinas Amoreiras, Av. das Amoreiras, 450 | Parque Itália. Campinas/SP
Quando: de 5 de agosto a 1º de outubro, terça a sábado, das 9h às 11h e das 14h às 20h, exceto feriados;
Quanto: entrada gratuita.
Mais informações no site do SESI clicando aqui.
–
[1] Maria Fernanda Ribeiro, em “O Brasil todo é terra indígena, é pindorama. Temos que ser vacinados”, diz Vanuza Kaimbé, janeiro de 2021
[2] Maria Fernanda Ribeiro, em “O Brasil todo é terra indígena, é pindorama. Temos que ser vacinados”, diz Vanuza Kaimbé, janeiro de 2021
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.