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Crítica: ‘Apenas Coisas Boas’ molda o silêncio sob o signo de Bresson – Olhar de Cinema

Segundo longa de ficção de Daniel Nolasco, 'Apenas Coisas Boas' estreia na mostra competitiva do Olhar de Cinema com uma narrativa de temporalidades múltiplas e encenação radicalmente contida, evocando o cinema de Robert Bresson para falar de afeto, erotismo e repressão entre dois homens no interior do Brasil dos anos 1980.

porPaulo Camargo
18 de junho de 2025
em Cinema
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Segundo longa de Daniel Nolasco esteve no Olhar de Cinema. Imagem: Divulgação.

Segundo longa de Daniel Nolasco esteve no Olhar de Cinema. Imagem: Divulgação.

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Em Apenas Coisas Boas, Daniel Nolasco depura ainda mais os elementos que vêm marcando sua filmografia e entrega um filme de rara densidade estética e afetiva. Exibido na mostra competitiva da 14ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, o longa inscreve-se no coração de um cinema queer que se recusa à exuberância e prefere o caminho da contenção. É, acima de tudo, um filme sobre o não-dito, o gesto suspenso, o corpo que deseja e resiste – e o faz sob o signo rigoroso da influência de Robert Bresson, referência perceptível na forma como Nolasco conduz seus atores, o tempo narrativo e a encenação.

A trama se passa em 1984, no município goiano de Catalão, cenário de uma ruralidade rarefeita e quase intemporal. Antonio (Lucas Drummond) vive só, numa pequena propriedade, em silêncio e repetição. Um homem enclausurado em sua rotina e em sua própria subjetividade. A entrada de Marcelo (Liev Carlos), motociclista que sofre um acidente nos arredores e é acolhido por Antonio, quebra essa estabilidade com o ruído suave de uma presença externa, intrusiva e, pouco a pouco, transformadora.

O que se desenrola a partir daí não é exatamente uma história de amor nos moldes convencionais, tampouco uma tragédia queer em sentido estrito. Apenas Coisas Boas prefere habitar o interstício entre desejo e contenção, oferecendo um cinema do corpo que não se deixa capturar pela linguagem. Em vez de psicologizar seus personagens ou dramatizar seus conflitos, Nolasco os filma com frieza metódica e imensa delicadeza – como Bresson fazia com seus “modelos” –, extraindo deles uma fisicalidade discreta, quase antinaturalista, mas extremamente expressiva. Os atores, aqui, não atuam; são corpos em presença, atravessados por gestos mínimos, olhares que se evitam ou se buscam, ritmos descompassados.

Essa opção estilística é central. A economia de diálogos, os planos fixos e longos, os silêncios densos, tudo contribui para a construção de um espaço onde o tempo parece expandido e onde o afeto só pode emergir sob a forma da hesitação. A paisagem rural – captada com uma luz sempre difusa, quase crepuscular – ecoa essa opressão sensorial e espiritual. Não há alívio, tampouco epifania. Há apenas o tempo compartilhado, a fragilidade, a exposição.

A escolha por ambientar a narrativa em um Brasil rural dos anos 1980 não é apenas um detalhe histórico: é uma chave simbólica que potencializa o drama do silêncio.

Premiado pelo Frameline Completion Fund, nos EUA, e estreado internacionalmente no Festival de Guadalajara, no México, o filme chega a Curitiba com a força de uma obra que articula questões urgentes – o desejo homoafetivo, a masculinidade marginalizada, a repressão social – sem jamais abrir mão da linguagem cinematográfica como campo de experimentação estética. No Brasil, será distribuído pela paranaense Olhar Filmes.

A escolha por ambientar a narrativa em um Brasil rural dos anos 1980 não é apenas um detalhe histórico: é uma chave simbólica que potencializa o drama do silêncio. O filme observa com rigor a gramática do não-dito que rege tantas relações entre homens no campo, ainda hoje marcadas por estruturas conservadoras e patriarcais. Antonio e Marcelo não são idealizados, mas tampouco são caricaturais. Eles se movem – ou paralisam-se – dentro de códigos que os excedem, o que torna cada aproximação entre eles tão potente quanto perigosa.

Apenas Coisas Boas é, também, uma meditação sobre o tempo. Sua narrativa se fragmenta, se dobra, se reconstrói por múltiplas temporalidades e possíveis realidades. O desejo não é linear. A memória não é confiável. O que fica, ao final, é a impressão de um encontro que jamais se completa, mas que altera para sempre a paisagem interior de seus protagonistas.

Com este filme, Daniel Nolasco não apenas afirma sua voz como um dos principais nomes do cinema queer brasileiro, mas dá um salto formal. Apenas Coisas Boas é um exercício de estilo e sensibilidade – e, ao mesmo tempo, uma crônica silenciosa e lancinante sobre o que significa desejar e calar. É um filme que não grita. E justamente por isso, permanece.

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Tags: Apenas Coisas BoasCinemaDaniel NolascoOlhar de Cinema

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