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Home Crônicas Helena Perdiz

Vamos marcar

porHelena Perdiz
17 de março de 2016
em Helena Perdiz
A A
"Vamos marcar", crônica de Helena Perdiz

Imagem: Reprodução.

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Não se falavam desde a época do colégio, o que transformou a amizade em algumas curtidas nas redes sociais e nada além disso. Mas aquele encontro inusitado na Estação da Luz foi bom para relembrar os bons tempos por alguns segundos.

– Pô, foi ótimo ver você.

– A gente precisa colocar o papo em dia, Helô.

– Sim, vamos marcar.

– Vamos, vamos marcar. Quer ir hoje no Boteco do Bode?

Heloísa arregalou os olhos. Aquela pergunta ia contra as leis naturais – não por se tratar de um boteco cujo proprietário era um bode, afinal, os bodes são livres para fazer o que quiserem, inclusive para empreender. O problema é que depois de “vamos marcar”, a clássica frase que encerra as conversas com pessoas que nunca mais vão se ver na vida, as pessoas não devem sugerir dias e lugares para futuros encontros – justamente porque já está definido que elas nunca mais vão se ver na vida.

– Porra, Bia…

– O que foi, Helô? Tá tudo bem?

– Beatriz, você não entendeu. Eu falei “vamos marcar”.

– Sim, eu entendi. Por isso eu sugeri um lugar pra gente ir hoje.

– Não. Foi um “vamos marcar”, entendeu?

– Entendi. E sugeri um bar legal.

– Não, Beatriz…

– Você não gosta do Boteco do Bode, é isso?

– Não, nada contra botecos e bodes em geral, até gosto.

– Então?

O problema é que depois de ‘vamos marcar’, a clássica frase que encerra as conversas com pessoas que nunca mais vão se ver na vida, as pessoas não devem sugerir dias e lugares para futuros encontros – justamente porque já está definido que elas nunca mais vão se ver na vida.

– Olha, Bia, eu não sei como falar isso de um jeito menos chato.

– Só fale logo, eu preciso ir trabalhar.

Heloísa juntou as duas mãos atrás da cabeça, fazendo um alongamento com o pescoço. Depois, segurou no ombro de Beatriz e lançou um olhar de tristeza.

– Beatriz, a gente nunca mais vai se ver.

– Credo! O que eu fiz pra você?

– Nada. Mas não adianta lutar contra a natureza, a gente nunca mais vai se ver. Eu sei disso e, no fundo, você também sabe.

– Que horror, Heloísa.

– Presta atenção: a gente se formou no colégio há dez anos. Desde então, quantas vezes a gente se viu, tirando hoje?

– Nenhuma.

– Nenhuma! Exatamente.

– E daí?

– E daí que foi um momento único, não vai mais acontecer. E por isso eu falei “vamos marcar”, para encerrar a conversa de um jeito bacana, com você sabendo que eu até gostaria de vê-la novamente um dia.

– Mas você não gostaria?

– Gostaria.

– Então é só marcar!

– Não adianta marcar porque não vai acontecer. Simplesmente não vai, estou sendo realista aqui. Na data você vai pegar chikungunya ou um golpe militar vai obrigar todo mundo a ficar em casa, não dá pra saber o que vai acontecer, mas vai.

– Tá bom, não vou discutir.

Beatriz ficou olhando para o chão com aquela cara que a gente fica quando alguém fala que vai chover e a gente não lembra se tirou o edredom do varal.

– Mas foi muito bom ver você, de verdade.

– Também gostei de ver você, Helô. Agora deixa eu ir pro trabalho antes que eu me atrase ainda mais.

– Vai lá, foi um prazer. Vamos marcar alguma coisa.

Tags: BodeChikungunyaCrônicaGolpeMarcarMilitar

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