• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Teatro

Os bastidores da aflição

Reflexões sobre o papel do ator e do teatro na atualidade: desafios e perspectivas.

porBruno Zambelli
28 de julho de 2016
em Teatro
A A
Imagem: Escotilha.

Imagem: Escotilha.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

Não consigo precisar ao certo quando ou como se deu a conversa que serviu de base para iniciar esse texto. Creio na verdade que a coisa toda se desenrola, mesmo que seja no inconsciente alcoólico de alguns papos notívagos espaçados entre mesas e sofás, desde sempre e que o que me faltou até então foi paciência e organização para escrever. O fato é que já há algum tempo tenho refletido sobre as questões que envolvem atualmente o papel do ator, e de todos aqueles que pensam o teatro, na atual circunstância cultural em que nos encontramos naufragados.

Todo artistas passa, ora ou outra, por aquele momento decisivo em que é necessário reafirmar crenças para enfrentar medos e inseguranças, afinal, sabemos que não é fácil manter-se fiel a certas opções desacreditadas pela sociedade. Não se enganem, amigos. A multidão que idolatra, e nesse sentido a idolatria é uma espécie de consumo, grandes nomes das artes é a mesma multidão que, a certa altura, tentará te dissuadir de seus sonhos em troca da segurança que gozam os famosos “homens comuns” que preferem a mordaça imposta pela rotina à liberdade exaltada pela inconstância da criação.

Não que haja algum demérito na escolha por uma vida tranquila à base de CLT e gabinetes, pelo contrário, aqueles que se submetem a esse modelo de mercado de trabalho, alguns mesmo a contra gosto, demonstram uma coragem absurda e certa paixão àquilo que encontram enquanto distração quando estão longe de toda burocracia e de toda submissão. O problema é que muitos desses homens insistem em não nos deixar trilhar o caminho que desagrada ao coro dos contentes. Admito também que é impossível fugir totalmente a essa regra, portanto, falo enquanto mais um homem subordinado às imposições que escolheu para a própria existência. Não existe glamour ou beleza quando tratamos de sobrevivência, independente dos meios que buscamos para resistir.

Dos palcos aos escritórios, das salas de aula às redações, vivemos numa época em que as paixões foram substituídas pelas obrigações.

Dos palcos aos escritórios, das salas de aula às redações, vivemos numa época em que as paixões foram substituídas pelas obrigações e estamos todos pagando o preço pela ganância humana, por essa ansiedade que temos de não passarmos anônimos pelos caminhos que trilhamos, mesmo que o memorável rastro deixado seja o do nosso triste rastejar.

Nunca escrevi nesse espaço com a intenção de defender opiniões enquanto verdades absolutas. Teimo no papel de escrever sobre teatro para travar uma batalha de ideias, dividir aflições e compartilhar desejos. Mais do que falar sobre esse ou aquele espetáculo, já que me faltam elegância e talento para crítica, diferente do talentosíssimo, e querido, companheiro Francisco Mallmann (leiam tudo o que o cabra escreve!), busco travar um diálogo que nos instigue a repensar o ofício do palco, embora muitas vezes o retorno seja mínimo e pareça que travo sozinho uma batalha interior.

A verdade é que enxergo em mim aquilo que tenho enxergado no mundo: a falta de desejo em viver e produzir. Não que guardemos todos uma vontade danada da morte ou algo parecido, é claro que não, mas é nítido que fazemos parte de uma geração que aprendeu a tocar o bonde, muitas vezes em ponto-morto, até o abismo inevitável que guarda o infinito. Por isso é preciso deixar claro que, a partir de agora, as linhas que se seguem tratam de dúvidas e não de afirmações. E que buscam simplesmente construir, junto ao leitor, possibilidades de enfrentarmos juntos as torturantes barreiras que despontam no horizonte.

Pois bem, nas intermináveis noites pós-espetáculo, algumas vezes escorado em balcões de mármore, percebi que muitos amigos, e alguns ilustres desconhecidos, também compartilham da opinião de que alguns propósitos artísticos, vistos de perto, mostram-se absolutamente frágeis. O véu da contracultura nos legou a revolta e o deboche, mas também nos deixou nus diante de muita besteira. A ruptura pela ruptura é de longe uma das maiores falácias artísticas do mundo moderno. Estamos fadigados de argumentos que não resistem à primeira indagação. De novos gênios que nada sabem sobre o pesado que renegam. De profetas gerados no útero da banalidade.

A construção das tais desconstruções não são mais justificadas por uma vontade de mudança clara, mas sim por enxergar nesse segmento artístico, palavra adorada pela turma do contra, uma possibilidade clara de mercado. Evidente que não existe nada de errado em um artista buscar a criação de um público, o erro está no fato de travestir a busca mercadológica de ímpeto ou condenar outras práticas mais “caretas” como se diz por aí. Entre o cifrão e a paixão, acabamos condenados a viver num eterno purgatório artístico que pouco tem a dizer fora de seus círculos de amizades. Afinal, como bem disse José Celso Martinez Corrêa, a humanidade que lucra com armas lucra, também, com livros. Não há mais ingenuidade, tão pouco há vestígio de chama, inclusive nesse que vos escreve e clama por uma saída dessa trama desconexa.

Um ator das antigas culpa leis de incentivo, diz que artistas ficaram preguiçosos desde que descobriram a possibilidade de receber antecipadamente por um projeto nascido da simples possibilidade de negócio. Discordo! A cultura, como a saúde e a educação, é direito de um povo e não sua obrigação, portanto, é papel do Estado possibilitar o acesso ao público e a possibilidade de criação ao artista. Outro camarada culpa os tempos de amores líquidos, enquanto sorve mais um gole de cerveja que, à sua maneira, também serve para acalentar o desespero adquirido. Em tempo de paixões líquidas, não é de se estranhar que o amor permaneça liquidado.

Não julgo trabalhos, creio que cada um sabe onde aperta o próprio calo. De minha parte, mesmo que tomado por um desânimo inexplicável, continuo a buscar um teatro em que reconheça a vida que julgo verdadeira. Uma existência perdida que se faz necessária a essa altura da vida. Revisito autores, antigos amores, que de certa forma me acalmam feito um trago de bebida forte. Sei que o tempo não espera, que existe uma vida correndo por fora da alma descompassada e que é preciso, de uma maneira ou de outra, caminhar. Por hora rastejo. Rastejo sem vergonha e sem pudor de escrever e encenar aquilo que penso: a minha crença que pulsa dentro do peito.

Talvez a única saída possível seja acreditar no outro, naquela que, por estar do lado de fora de nós, nos ajuda a encontrar a saída que insistimos em não reconhecer à nossa frente. Entre novas e velhas estéticas a única certeza que nos resta é a de que sozinhos não somos capazes nem mesmo de despertar. Por isso, em tempos de rupturas vazias permaneço de braços dados com o mundo todo, num fraterno abraço do tamanho de todos os nossos sonhos possíveis. Ando cansado do papo de bastidores, a verdadeira vida está na aflição de se estar vivo.

Que sonhemos então, mesmo que seja através de olhos aflitos!

ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA

Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.

CLIQUE AQUI E APOIE

Tags: bastidoresJosé Celso Martinez Corrêapapel do atorreflexõesTeatro

VEJA TAMBÉM

Dirigido por Luciana Paes, Gregório Duvivier protagoniza ode crítica à língua de todos nós. Imagem: Joana Calejo Pires / Divulgação.
Teatro

Crítica: Em ‘O Céu da Língua’, Gregório Duvivier performa as fissuras da linguagem – Festival de Curitiba

8 de abril de 2025
Espetáculo retornou após 15 anos ao festival. Imagem: Roberto Setton / Divulgação.
Teatro

Crítica – ‘In On It’ retorna a Curitiba após 15 anos sem perder o frescor – Festival de Curitiba

4 de abril de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Cantora trará sucessos e canções de seu 12º disco de estúdio. Imagem: Ki Price / Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: Pretenders

9 de maio de 2025
Exposição ficará até abril de 2026. Imagem: Gabriel Barrera / Divulgação.

Exposição na Estação Luz celebra a Clarice Lispector centenária

8 de maio de 2025
Grupo indiano chega ao Brasil com disco novo, em parte de extensa turnê de lançamento. Imagem: Tenzing Dakpa / Divulgação.

C6 Fest – Desvendando o lineup: Peter Cat Recording Co.

8 de maio de 2025
O escritor José Falero. Imagem: Reprodução.

Contundente e emocionante, ‘Vera’ evidencia a alta qualidade da literatura de José Falero

7 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.