• Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
Escotilha
Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
Escotilha
Home Literatura

‘Bartleby, o escrivão’: um elogio à procrastinação

Tão icônico quanto 'Moby Dick', 'Bartleby, o escrivão', de Herman Melville, dialoga com a burocracia labiríntica da contemporaneidade.

porJonatan Silva
21 de julho de 2017
em Literatura
A A
'Bartleby, o escrivão': um elogio à procrastinação

Imagem: Reprodução.

Envie pelo WhatsAppCompartilhe no LinkedInCompartilhe no FacebookCompartilhe no Twitter

O filósofo alemão Theodor Adorno explicou, ainda na década de 1940, que tempo livre é todo o instante no qual o empregado não está em contato com o trabalho. Nesse sentido, a recusa aos afazeres obrigatórios é também uma busca pela liberdade e pela emancipação. Quando Herman Melville escreveu Bartleby, o escrivão, que acaba de ser relançado pela José Olympio, o autor do monumental Moby Dick não imaginava criar um estereótipo tão perfeito para o sujeito pós-moderno, alheio ao mundo e também a si próprio.

Bartleby é um jovem escrivão que aparece em um escritório de advocacia em Wall Street após atender a um anúncio de jornal. Muito quieto e resoluto, o rapaz logo se resigna das tarefas que lhe cabe, exteriorizando a sua afasia com o famoso bordão: “prefiro não fazer”. A situação gera incômodo entre seus companheiros de trabalho, os não menos bizarros, porém produtivos, Turkey, Nippers e Ginger Nut (Peru, Alicate e Pão de Mel, como comenta Modesto Carone no posfácio da edição publicada pela Cosac Naify em 2005).

O dono do escritório, um homem idoso que permanece anônimo durante toda a história, é confrontado cena a cena pela recusa e pela reclusão de seu funcionário, até descobrir que, na realidade, Bartleby está morando ali. Melville é sagaz em traçar, com linhas muito tênues, um personagem com tantos “encantos” psicológicos, como em uma ode à procrastinação, no caso, um adiamento ad infinitum. Como Carone comenta, até mesmo o escritório é arquitetonicamente perfeito para que o escrivão possa manter-se isolado. Dentro desse caos, tudo parece estar, literalmente, na mais perfeita harmonia.

Kafka

Jorge Luis Borges – no prefácio que acompanha a recente edição e que pode ser encontrado em Prólogos, com um prólogo de prólogos – nota que Bartleby é, na realidade, um personagem kafkiano – vivendo em um universo muito interior e expressionista. A criação de Melville tem a mesma pulsão negativa que K., Gregor Samsa ou Josef K. Assim como as criaturas do tcheco, Bartleby é um artista da fome, alimentando-se apenas de bolinhos de gengibre e nada mais. Borges tem uma explicação muito sábia a esse respeito: tanto Bartleby quanto os escritos de Kafka estão centrados nas “fantasias do comportamento e do sentimento”.

Até mesmo o escritório é arquitetonicamente perfeito para que o escrivão possa manter-se isolado. Dentro desse caos, tudo parece estar, literalmente, na mais perfeita harmonia.

É, no entanto, impressionante que o escritor norte-americano tenha conseguido transpor certa leveza e comicidade em sua novela. O caráter irônico vai ser o estopim para que o catalão Enrique Vila-Matas buscasse outros bartlebys na história da literatura. Em seu Bartleby e companhia, ele mapeia outros casos – reais ou não – de outros “seres em que habita uma profunda negação do mundo”. De Rimbaud, passando por Baudelaire e chegando a Melville, Vila-Matas apresenta ao seu leitor a estranheza de pessoas “normais”.

Bartleby, o escrivão é um texto que se mantém atual, uma bela e intrincada crítica à burocracia que leva à morte ou à prisão. Melville brinca justamente com essa noção de fim ao relatar que seu personagem acaba em Tombs, um jogo linguístico pode significar uma cadeia específica e, claro, os túmulos. Talvez a reencarnação mais contemporânea de Bartleby não esteja na literatura, mas no cinema, em Eu, Daniel Blake, uma fábula recheada de humor negro sobre os labirintos das repartições públicas e da ignorância do ser humano.

BARTLEBY, O ESCRIVÃO | Herman Melville

Editora: José Olympio;
Tradução: A. B. Pinheiro de Lemos;
Tamanho: 96 págs.;
Lançamento: Março, 2017.

COMPRE O LIVRO E AJUDE A ESCOTILHA

Tags: BartlebyBartleby o escrivãoCharles BaudelaireCríticaCrítica LiteráriaEditora José OlympioEnrique Vila-MatasFranz KafkaHerman MelvilleJorge Luís BorgesJosé OlympioLiteraturaModesto CaroneRimbaudTheodor Adorno

VEJA TAMBÉM

Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.
Literatura

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Nascido em Fortaleza, o escritor Pedro Jucá vive em Curitiba. Imagem: Reprodução.
Literatura

‘Amanhã Tardará’ emociona ao narrar o confronto de um homem com seu passado

28 de maio de 2025
Please login to join discussion

FIQUE POR DENTRO

Calçadão de Copacabana. Imagem: Sebastião Marinho / Agência O Globo / Reprodução.

Rastros de tempo e mar

30 de maio de 2025
Banda carioca completou um ano de atividade recentemente. Imagem: Divulgação.

Partido da Classe Perigosa: um grupo essencialmente contra-hegemônico

29 de maio de 2025
Chico Buarque usa suas memórias para construir obra. Imagem: Fe Pinheiro / Divulgação.

‘Bambino a Roma’: entre memória e ficção, o menino de Roma

29 de maio de 2025
Rob Lowe e Andrew McCarthy, membros do "Brat Pack". Imagem: ABC Studios / Divulgação.

‘Brats’ é uma deliciosa homenagem aos filmes adolescentes dos anos 1980

29 de maio de 2025
Instagram Twitter Facebook YouTube TikTok
Escotilha

  • Sobre
  • Apoie
  • Política de Privacidade
  • Contato
  • Agenda
  • Artes Visuais
  • Colunas
  • Cinema
  • Entrevistas
  • Literatura
  • Crônicas
  • Música
  • Teatro
  • Política
  • Reportagem
  • Televisão

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.

Sem Resultados
Veja Todos Resultados
  • Reportagem
  • Política
  • Cinema
  • Televisão
  • Literatura
  • Música
  • Teatro
  • Artes Visuais
  • Sobre a Escotilha
  • Contato

© 2015-2023 Escotilha - Cultura, diálogo e informação.