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Trabalhado no batom

Usar batom, maquiagem e roupa de mulher não é um hábito incomum entre artistas britânicos do glam rock.

porKaty Mary
20 de abril de 2015
em Música
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Trabalhado no batom

Imagem: Reprodução/Anton Corbijn.

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Certa vez, li uma entrevista do Brett Anderson, líder do Suede, na revista inglesa Vox, em 1994, em que ele dizia: “os americanos acham que somos uma nação de bichas.” Pudera.

Os ingleses, mesmo tendo a fama de serem sóbrios (na questão de atitude e não no hábito de beber, que fique claro), e terem aquele ar aristocrático, são chegados em um batom e um vestido. É fato. E é comprovado que no século 18 eles já tinham o costume, mas o faziam às escondidas, nas chamadas “Molly Houses”.

A meu ver, esse hábito tem explicação em vários contextos. Um deles, certamente, é comportamental. A intenção é colocar pitadas de ironia e sarcasmo na atitude afeminada e mandar o recado “não nos levem tão a sério.” A filósofa e escritora americana Susan Sontag (1933-2004) afirmava em seus estudos que a atitude afeminada do inglês provoca um espírito de extravagância. Para Susan, ser afeminado é um modo de seduzir.

Mas é mais do que isso. Principalmente por culpa de um rapaz chamado David Bowie, que em 1967, resolveu ser mais ele, o que significava usar maquiagem e roupas femininas para o mundo e não só entre quatro paredes. Bowie concebeu toda a sua estética baseada na arte, na ambiguidade sexual, na androginia e no que mais lhe viesse à cabeça.

De atrizes e atores famosos a travestis, nada passava despercebido pelo radar do Camaleão. E disso tudo nasceu o Glam Rock. E nessa época, não só os ‘Glams de nascença’, mas outros artistas, como Mick Jagger, também já tinham caído nas graças do batom e do rebolado.

De atrizes e atores famosos a travestis, nada passava despercebido pelo radar do Camaleão. E disso tudo nasceu o Glam Rock. E nessa época, não só os “Glams de nascença”, mas outros artistas, como Mick Jagger, também já tinham caído nas graças do batom e do rebolado. O resto é história.

Além das ruas, Bowie tinha suas inspirações mais profundas que lhe renderam visuais eternos. Ele tinha Lindsay Kemp, ator, dançarino e mentor. O artista lhe deu um mundo em que tudo era possível. Bowie absorveu gestos, movimentos, performances da obra de Kemp, em especial a mímica e a maquiagem.

No início da carreira, Bowie aplicava a sua própria maquiagem, fato esse que me frustra, já que nem um curso me daria a habilidade que ele tem com os pincéis. Ele foi ao Japão para aprender as técnicas de maquiagem com Tamasaburo, uma assumidade do teatro kabuki. Comprava sua maquiagem em uma lojinha em Roma. Os batons, sombras, pós e máscaras vinham da Índia. Mais tarde, quando já era uma estrela, o músico confiou seu rosto a Pierre La Roch. Pierre foi quem maquiou Bowie nas turnês de Ziggy Stardust e Aladdin Sane.

Toda estética sem limites lhe rendeu questionamentos sobre sua sexualidade, até porque ele instigava. E confundia. No livro David Bowie is Inside (em português David Bowie, publicado pela Cosac Naify, em 2014), há um trecho em que é lembrada a famosa entrevista que ele concedeu ao jornalista Michael Watts, da Melody Maker, em 1972.

Na ocasião, Bowie disse que era gay. Watts, provocando, lhe pergunta: “por que você não está usando seu vestido de moça hoje?” Bowie, cujo semblante podemos até imaginar, responde: “ora, meu caro, você precisa compreender que aquilo não é roupa de mulher. É um vestido masculino.” Tempos depois Bowie diz que não era gay a quem interessar possa.

Depois de alguns sopros ainda criativos na estética visual, até meados de 1970, era hora de Bowie passar o demaquilante. Outros músicos, bebendo na fonte dele, já haviam traçado um caminho semelhante, mas com outra roupagem. Os New Romantics estavam chegando. Duran Duran, Japan, Adam Ant, Gary Numan, Culture Club, Visage, Yazoo e muitos outros se encontravam no lendário clube Blitz, em Convent Garden, Londres, pra falar sobre tintura de cabelo, roupas, música e, acreditem, mulheres!

É inusitado, mas boa parte dos músicos dos anos 80 que se maquiava não era gay. Andy Warhol quase morreu de desgosto quando conheceu os garotos do Duran Duran na Factory, seu estúdio-boate, em Nova York. Em seu livro Diários de Andy Warhol , publicado depois de sua morte, em 1987, ele lamentava: “hoje os meninos do Duran Duran estiveram por aqui. Bebemos, fumamos um baseado. E, é incrível, eles estavam todos maquiados e acompanhados das namoradas.” São ingleses, Andy. Eles vieram para confundir.

E teve mais. Teve os punks, os post-punks, os góticos que também se maquiavam. Siouxsie and the Banshees, Bauhaus e The Cure mudaram por completo o conceito do Glam Rock. Sai o colorido e entra o preto, tanto nas roupas quanto na maquiagem. Falar com mais profundidade sobre esse novo conceito visual requer mais caracteres. Então, é bem possível que mais a frente eu tire algo do forno.

Eu gostaria de ficar aqui por horas teclando sobre maquiagem, roupas e tudo mais que fez os anos 70 e 80 terem sido tão únicos em termos de estética e androginia. Mas o tempo esgotou. Porém, se você quiser ir um pouco mais a fundo na questão de estilo, sensibilidade, gênero e outras vertentes, sugiro a leitura do artigo “Notes on Camp”, da Susan Sontag, escrito em 1964 . Nele há algumas ligações com o que falei hoje por aqui.

Até!

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Tags: AndroginiaAndy WarholDavid BowieDuran DuranEstiloGlam RockMaquiagemMick JaggerNew RomanticPós-PunkSiouxsie and the BansheesThe Cure

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