Autobiografia de todo mundo, espetáculo solo do Grupo Nômade, apresentou curta temporada na última semana, em Curitiba. A peça foi encenada nos dias 17 e 18, no espaço de compartilhamento artístico do Grupo Obragem de Teatro.
A peça oferece uma experiência teatral marcada pela improvisação e teatro performático. No hall de entrada do Espaço Obragem, o público aguardou a abertura do teatro. Juliana Liconti, atriz que comanda o espetáculo, desceu as escadas que ligavam os espaços da entrada e do teatro e convidou o público para acompanhá-la. A partir de então, o público pode conferir uma apresentação cênica curiosa, composta por inúmeros dispositivos de interação entre cena e plateia.
Com direção de Caio Monczak, o trabalho revela um espetáculo que ultrapassa os limites de palco e plateia, oferecendo ao público um lugar de criação coletiva no texto do espetáculo. O primeiro momento da peça é produzido por um bate-papo entre a plateia, que precisa responder algumas perguntas, como um jogo. A partir dessa composição, a atriz implementa as respostas do público no texto cênico final da peça.
O público pode conferir uma apresentação cênica curiosa, composta por inúmeros dispositivos de interação entre cena e plateia.
Quem assiste à montagem do espetáculo pode conferir, então, suas próprias histórias sendo narradas, muitas vezes em perspectivas e contextos muito distintos do real. Aliado a isso, o espetáculo se revela como um trabalho cênico completo, composto por expressão corporal, voz e texto em uma composição cênica criativa.
Segundo a atriz Juliana Liconti, Autobiografia de todo mundo surgiu em 2015, com uma ideia do diretor e dramaturgo do espetáculo, Caio Monczak. “Esse é um trabalho composto pelo Grupo Nômade. No último ano da faculdade, o Caio disse que queria dirigir como quem ‘discoteca’, essa imagem que ele tinha. E ele queria trazer os materiais do DJ, da discotecagem, para o teatro, e nós começamos a pesquisar isso”.
Juliana relatou que o grupo chegou a produzir uma cena de cinco minutos, parecida com a peça Autobiografia de todo mundo, mas o trabalho retornou com mais expressividade no grupo no início de 2017. A estreia do espetáculo aconteceu no mesmo ano, durante a primeira edição da Mostra Emergente, em Curitiba.
A atriz, que atualmente mora em Brasília, relatou que, desde o início, os principais dispositivos do espetáculo eram se apropriar da conversa das pessoas, durante o bate-papo, e a partir de então criar a “discotecagem”, no sentido de pegar histórias e juntá-las, de modo que criassem conexões heterogêneas e, por vezes, deslocadas.
A dramaturgia também é marcada por um roteiro de ações, que são divididos pelas faixas de uma playlist. “A playlist é um dispositivo relacional, ela cria uma relação específica. A ideia desses dispositivos é que eles fossem abertos para que as pessoas participassem e, ao mesmo tempo, criassem diferentes estados corporais em mim. Essa ideia de apresentar as faixas de uma playlist é um pouco como se eu dissesse: esses são os materiais que eu disponho, essas são as minhas faixas e agora eu vou discotecar com as histórias que estão vindo de vocês”, finalizou Juliana.