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Home Teatro

‘Aos Vivos’: um debate sobre os debates presidenciáveis

porBruno Zambelli
11 de outubro de 2018
em Teatro
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Performance 'Aos Vivos', de Nuno Ramos

Performance 'Aos Vivos', de Nuno Ramos. Imagem: Reprodução.

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Diante do ambiente político contagiado pela insensatez é preciso buscar novas formas de se fazer política através da arte, afinal, o simples fato de estar vivo já torna o brasileiro um animal político. Desse absurda objeção à política, e combatendo essa onda acéfala que empesteia o cenário artístico com seus gritos de não, nasce o projeto Aos Vivos, performance criada pelo artista plástico, ensaísta e escritor Nuno Ramos.

O conceito de Aos Vivos é mais simples do que pode parecer. A série composta de três partes, independentes ou não, não passa de reproduções fiéis e literais, ou seja na íntegra, dos debates presidenciáveis. Na primeira delas, batizada de “Dervixe”, um ritual muçulmano, oito atores reproduziram as falas dos candidatos à presidência. O “material de cena” foi recebido através de audiofones conectados a um canal televisivo, no último 4 de outubro. Além dos atores, a performance contou com uma performer/bailarina que “gravita ininterruptamente durante todo o debate, ao som da flauta e percussão sufi num círculo formado pelos atores no centro do palco”.

Para os próximos dias estão programadas mais duas performances da série. A segunda, batizada de “Antígona”, tragédia grega de Sófocles, deve acontecer no penúltimo debate marcado pelas emissoras televisivas. Na ocasião, além dos discursos proferidos em tempo real pelos candidatos, e que sairá da boca dos atores no palco, Nuno promete uma mescla de textos da obra máxima de Sófocles a fim de causar ainda mais reflexão por parte do público. A última apresentação, terceira da série, é denominada “Terra em Transe” e segue os mesmo moldes da segunda, dessa vez mesclando aos discursos diálogos entre os personagens do filme homônimo de Glauber Rocha.

Os atores trocam de “personagens” a cada sinal, fazendo com que promessas e acusações troquem de bocas e, consequentemente, de “filtros”, o que só torna a coisa ainda mais interessante. À plateia cabe, além da reflexão eleitoral, se posicionar diante do que é dito, algo proibido nos engessados debates televisivos que coíbem as manifestações diante do que é dito, algo não muito próprio de uma democracia, diga-se.

À plateia cabe, além da reflexão eleitoral, se posicionar diante do que é dito, algo proibido nos engessados debates televisivos que coíbem as manifestações diante do que é dito.

Se por um lado, Aos Vivos já nasce imprescindível por colocar arte e política de forma crua e deliberada no mesmo palco, por outro é preciso fazer algumas observações a respeito da obra. Uma delas, por exemplo, é o resultado real da coisa. Não há, ou pelo menos não encontrei nada a respeito em pesquisas sobra a série, um debate claro e construtivo a respeito das ideias apresentada pelos candidatos e repetidas pelos atores em cena. É evidente que talvez essa não seja, como parece, a grande preocupação de Nuno Ramos, mas em épocas onde o primeiro passo da politização nacional é dado através de redes sociais, mar aberto de mentiras e manipulações, talvez seja preciso aproveitar a oportunidade para debater a fundo projetos e criar uma forma de política mais racional e menos agressiva.

Outra, muito interessante, é notar que as palavras tendem a ganhar força quando separadas de quem as joga ao ar. Num ambiente político cada vez mais passional, é inegável que certas figuras acabam personificando ideias e esperanças, o que transforma o debate numa defesa dessa personalidades políticas e não de projetos, algo absolutamente equivocando quando o assunto é o futuro de um país. A fé cega sempre carrega na bainha uma faca amolada em busca do pescoço mais próximo.

“O Brasil não é para principiantes”. Anos atrás, munido de muita sabedoria e pouco entusiasmo, o maestro Tom Jobim cravou, cirurgicamente, essa que é uma das frases que melhor definem o país. Não somos uma nação de fácil compreensão e por conta disso mesmo somos, de certa maneira, um dos povos mais complexos e interessantes do globo. O Brasil, e por consequência o povo brasileiro, não é “etiquetável”, e isso em um mundo que cada vez mais fragmenta povos, nações e estilos de vida. Em meio a esse universo de simplificações, ainda é impossível nos definir, visto que o Brasil não admite limitações, e talvez seja essa indefinição que nos torne genuína e espiritualmente brasileiros. Somos extensos geograficamente e essa características nos torna gigantes em todos os sentidos, inclusive na incoerência e no desespero. Ser tupiniquim é, portanto, existir em eterna luta contra o mundo.

Aos Vivos, não por acaso, clama a todos os brasileiros que têm sangue correndo na veia. Convoca todos que respiram para um debate maior do que o debate presidenciável, um debate sobre o futuro de uma nação a deriva. Se de uma lado há, incontestavelmente, o monstro do fascismo colocando suas garras de fora à luz do dia, de outro há um partido sem autocrítica à espera de um líder que pode nunca retornar, numa espécie de “Sebastianismo abrasileirado” e, de certa maneira, suicida.

Estamos, pois, entre a cruz e a espada, mas precisamos definir algo rápido: de que lado sambamos? Eu, de minha parte, sempre defendi a liberdade e hei de continuar nessa jornada em nome da musa máxima de Rimbaud. De qualquer forma, o grande trunfo de Aos Vivos talvez seja demonstrar por A + B, ao vivo e no palco, que discursos habitam bocas diversas durante os tempos, e que é dever de cada cidadão saber identificá-los para, aí sim, corroborá-los ou combatê-los.

No magnífico Terra em Transe, que dá nome à terceira parte da série, Glauber Rocha coloca em cena duas forças: o jornalista, poeta e idealista Paulo Martins e um político conservador em ascensão, o famoso Porfírio Diaz. Numa das cenas mais bonitas da história do cinema, Paulo contesta o projeto de ditador com a seguinte frase: “As nossas riquezas, as nossas carnes, a vida, tudo, vocês venderam tudo, as nossas esperanças, o nosso coração, o nosso amor, tudo, vocês venderam tudo”. Essa frase curta, e também cirúrgica, fala hoje a todos os brasileiros mais do que qualquer promessa.

Cabe a nós, agora, defendermos isso: os nossos sonhos, os nossos corações e as nossas esperanças, e é preciso agir rápido, antes que qualquer Diaz desavisado, com a força da opressão e sua patente empoeirada, coloque as nossas “histéricas tradições em ordem pela força, pelo amor na força e pela harmonia universal dos infernos”. Chegaremos mesmo a uma civilização? Ainda é impossível saber, por ora ainda agonizamos, e permanecemos podres pelos crimes que cometemos mesmo que a nossas mãos ainda não estejam também sujas de sangue como as deles.

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Tags: Aos VivosCrítica TeatralNuno RamosPerformancepolíticaResenhaTeatro

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