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Home Crônicas Helena Perdiz

(In)feliz Dia dos Namorados

porHelena Perdiz
11 de junho de 2015
em Helena Perdiz
A A
Imagem: Reprodução.

Imagem: Reprodução.

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Passar o Dia dos Namorados ao lado de quem a gente ama. Tem como não ser especial? Para ele, não tinha, e tudo estava preparado para a grande noite. A reserva naquele restaurante caríssimo da capital estava feita há meses e o endereço gravado nos favoritos do GPS há dias.

Estacionou o carro na frente do prédio e, depois da clássica espera, viu Rosa chegando toda emperequetada.

– Desculpa a demora, môre. O delineador não ficava igual nos dois olhos de jeito nenhum, aí desisti, ó.

– Tá linda de qualquer jeito! Pronta para o melhor Dia dos Namorados de todos?

– Sempre. Vamos ver se nesse ano vai, né? Porque sempre dá merda.

“Passar o Dia dos Namorados ao lado de quem a gente ama. Tem como não ser especial?”

Era verdade: sempre dava merda. Em 2013, eles colocaram fogo no quarto do motel (literalmente, porque uma vela caiu no lençol, de um jeito nada romântico). Em 2014, comemoraram na praia e ela teve uma crise alérgica por causa do camarão – ficou parecendo um baiacu e os dois passaram a noite no hospital.

– Dessa vez vai dar tudo certo, você vai ver. Vamos que vamos.

– Vamos que vamos!

Duas horas dentro do carro. Estômagos roncavam, bocas bufavam.

– A gente já passou por essa rua.

– Não passou, não, a gente passou por aquela ali de cima.

– Não, era essa rua, Rosa.

– Não era essa.

– Era.

– Olha pra frente, ô! Quase bateu ali!

– Você quer dirigir? Porque se quiser eu estaciono o carro e deixo a rainha das ruas reinar ao volante.

– Não quero dirigir, só quero que você faça o caminho certo e a gente chegue logo nessa droga de lugar.

– A culpa é minha se o sinal do GPS sumiu há uma hora? A culpa é minha?

– A culpa é sua por continuar usando esse GPS de 1930. O que eu falei da última vez?

– Em 1930 nem existia GPS!

– Existia noção? Porque estamos em 2015 e você ainda não tem! Volta lá pra procurar.

– O meu GPS funciona. Sempre funcionou, você que dá azar.

Silêncio. Meia hora de um profundo silêncio constrangedor. E se tem uma coisa nessa vida que dura uma eternidade é o silêncio constrangedor.

– Acho que estamos chegando, Ró.

– Tomara.

– É nessa rua aqui que tem que virar.

– Credo, que escuridão.

– Hum, não era nessa rua, não.

– Francisco, anda rápido, tem um cara vindo na nossa direção.

– Não dá pra andar rápido, eu preciso ver direito onde a gente tá.

– Chico, aquilo na mão dele é uma arma?

– Uma arma?

– AQUILO NA MÃO DELE É UMA ARMA! CORRE, CHICO, VAI LOGO! A GENTE VAI MORRER, CHICO!

– Cacete!

– Ai, acho que é um guarda-chuva.

– Você confundiu um guarda-chuva com uma arma? Assaltante com carabina?

– O que é carabina?

– Carabina…

– Chico, é ali. É ali mesmo! Chegamos!

– Deus é pai!

Estacionaram, desceram e decidiram aproveitar a noite como um casal feliz e apaixonado que não passou as últimas horas querendo se matar. Olharam para a hostess, sorridentes.

– Boa noite, tenho uma reserva em nome de Francisco Bento.

– Boa noite, senhor Francisco. Desculpe-me, mas a reserva só era válida até as 21 horas.

– Mas passaram só dois minutos.

– Isso mesmo, passaram-se dois minutos.

– Não é possível!

– O senhor pode aguardar na fila. A espera é de uma hora e meia.

Olharam-se desacreditados e saíram emburrados, sem trocar uma palavra. Entraram no carro e permaneceram quietos, para aproveitar mais um pouco do silêncio constrangedor.

– Quer saber? É só uma data comercial, a gente não precisa comemorar.

Ele não respondeu e deu a partida. O carro mal ligou e a voz do GPS surgiu, alta e serena: “Você chegou ao seu destino”.

– Agora? Sério?

– Eu disse que funciona.

Tags: CrônicaDia dos NamoradosGPSNamorados

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