Um palco quase vazio. Apenas duas poltronas, três janelas para a rua e uma pilastra gigantesca adornam um espaço minimalista. A cenografia trazida em O Tempo e a Sala dá o tom da peça, dirigida por Leandro Daniel: o que interessa aqui são as relações – embora elas claramente estejam em desconexão.
Baseado num texto do ensaísta alemão Botho Strauss, o espetáculo, exibido na Mostra Lúcia Camargo do Festival de Teatro, gira em torno de um apartamento antigo no centro de uma grande cidade. Lá, moram dois homens: Julius (Rodrigo Ferrarini) e Olaf (Daniel Warren). O local em que eles estão é como uma espécie de portal em que os limites de tempo e espaço se misturam e se fundem. Entende-se que eles deram uma festa no dia anterior, e os convidados estão, de certa forma, presos naquele local.
Mas pouco do que acontece depois pode ser descrito em uma narrativa simples. Há gente que circula, entra e sai, chega direto do aeroporto ou vai embora deixando as malas para trás. O que é fato e ficção nas nossas memórias? O que de fato aconteceu, ou é apenas um devaneio criado pela mente?
Ao longo da cerca de uma hora de espetáculo, várias pessoas voltam à casa, e parecem cada uma simbolizar algo referente à existência humana.
Ao longo da cerca de uma hora de espetáculo, várias pessoas voltam à casa, e parecem cada uma simbolizar algo referente à existência humana. Há uma mulher toda de branco que talvez esteja morta (Bia Arantes), outra meio tresloucada, em clima de fim de festa (Maureen Miranda), um sujeito sisudo e que parece ser um tanto autoritário (Jandir Ferrari), e mais uma mulher, com semblante mais moderno, que chega para dar ordens (Adriana Seiffert).
E no meio de tudo isso, há uma personagem que se repete, Marie Steuber, papel de Simone Spoladore, tida como protagonista da história. Ela sai e retorna de diversas interações com os demais personagens, apresentando-se ora como uma mulher empoderada, ora como alguém carente que quer prender um homem com quem janta e que parece rejeitá-la.
Em uma somatória de cenas soltas, flertando com a ideia de absurdo (em certo momento, a pilastra fala), O Tempo e a Sala nos apresenta um espetáculo sobre o sentimento de solidão e isolamento – típico das grandes cidades, mas não só delas. Deixa o espectador ao fim do encontro com mais perguntas que respostas.
Elenco curitibano
Salta aos olhos, por fim, a boa conexão entre o elenco, formado sobretudo por atores e atrizes curitibanos que brilharam inicialmente aqui e alçaram voos para espaços maiores. Além de Simone Spoladore (que teve sua estreia profissional no mesmo Guairinha em que a peça foi encenada), são também curitibanos Leandro Daniel, que dirige a peça, Rodrigo Ferrarini e Maureen Miranda. Completa o elenco uma participação especial do veterano Chico Nogueira.
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