Em um momento em que o cinema hollywoodiano voltado para o público adulto enfrenta visível declínio, o diretor e ator Clint Eastwood, aos 95 anos, permanece como uma força criativa, comprometido em contar histórias densas e impactantes, sem depender de franquias ou universos compartilhados.
Embora Eastwood tenha recebido amplo reconhecimento por seus dramas prestigiados nos anos 2000, como Menina de Ouro e Sobre Meninos e Lobos, seus melhores momentos, muitas vezes, surgem quando ele se concentra na narrativa pura e convencional, deixando de lado introspecções sobre sua própria persona.
Jurado Nº 2, que acaba de chegar à plataforma de streaming Max sem ter sido lançado nos cinemas no Brasil, é exatamente isso: uma obra que, sob o formato de um thriller jurídico, mergulha nos dilemas éticos e emocionais de seu protagonista, enquanto entretém e instiga reflexões.
A direção, simples e precisa, foca em detalhes minuciosos, intensificando a tensão emocional e moral da trama.
A história gira em torno de Justin Kemp, vivido pelo ótimo Nicholas Hoult (de Um Grande Garoto e Nosferatu), um homem aparentemente íntegro que começa a suspeitar que pode ter sido responsável por uma morte que está sendo julgada em tribunal.
A partir desse ponto, Eastwood constrói um drama profundamente humano, no qual a luta interna de Kemp entre proteger sua família e fazer a coisa certa é explorada com sutileza. A direção, simples e precisa, foca em detalhes minuciosos, intensificando a tensão emocional e moral da trama.
Mas Jurado Nº 2 não é apenas um drama de tribunal. É uma meditação sobre a imperfeição do sistema de Justiça e os dilemas éticos que todos enfrentamos. A justiça, e suas idiossincrasias, é representada no filme pela ambiciosa promotora Faith Killebrew, interpretada pela excelente Toni Collette.
Para ela, o que importa é condenar, ainda que, para isso, tenha de questionar suas certezas. É interessante lembrar aqui que Collete e Hoult, quando ator mirim, foram mãe e filho na comédia dramática Um Grande Garoto, de 2002.
Eastwood conduz a narrativa de Jurado Nº 2 com destreza, equilibrando emoção e racionalidade, e criando um filme que é, ao mesmo tempo, uma obra de entretenimento e uma provocação reflexiva.
O brilhante desfecho da história, como é característico de Eastwood, deixa o público com a responsabilidade de interpretar os acontecimentos. O final é impactante, ao mesmo tempo devastador e inspirador, evocando questões universais sobre valores e escolhas.
Em tempos de crescente reflexão sobre o que significa fazer a coisa certa, Jurado Nº. 2 convida os espectadores a ponderarem sobre seus próprios dilemas éticos.
O fato de a Warner Bros. não ter investido no lançamento do filme diz mais sobre as prioridades comerciais do estúdio do que sobre a relevância de Clint Eastwood como cineasta. Ao entregar mais uma obra de grande valor artístico e emocional, Eastwood reafirma sua posição como um dos grandes contadores de histórias de nosso tempo.
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