Começamos a adentrar tempos sombrios. Não só em termos econômicos – infelizmente esse setor influencia todos os outros –, mas também no âmbito cultural.
Por trabalhar em um programa de TV voltado aos diversos âmbitos da arte, pude assistir dos bastidores a cena artística de Curitiba mudar bastante em apenas um ano e meio: a crise econômica e política atingiu a cultura em cheio.
Cheguei a passar longas tardes do ano passado pendurada ao telefone incessante da redação, vivo como uma entidade, borbulhando de sugestões de pauta. Infelizmente, posso afirmar que um dia como esse em 2017 é impensável.
Do pouco leque de opções que agora temos, filtramos muito até encontrar algo com que podemos trabalhar. Apesar de ser apenas uma mudança no micro-organismo em que vivo, esse padrão se reflete diretamente na vivacidade do cenário artístico municipal e nacional.
O que dói é ver quanta gente incentiva e, pasmem, comemora esses cortes de gastos vis, como se a arte fosse uma mera superficialidade.
A frágil existência do Ministério da Cultura, quase extinto em 2016, por si só já explica a situação da arte perante os Grandes Poderes.
Apesar da decisão ter sido reconsiderada devido ao grande rebuliço da classe artística, ficou mais claro do que nunca que quando é necessário cortar certos gastos, a tesoura chega primeiro para a cultura.
Não me leve a mal, é altamente compreensivo que setores como educação e saúde sejam prioridade diante de uma forte crise econômica.
O que dói é ver quanta gente incentiva e, pasmem, comemora esses cortes de gastos vis, como se a arte fosse uma mera superficialidade, como se fosse um instrumento ideológico. Ideologias à parte, o Brasil tem um potencial cultural imenso.
Somos uma colcha de retalhos de diferentes tradições, danças, ancestralidades, crenças religiosas, comidas típicas, estilos arquitetônicos: tudo isso e muito mais é cultura, e é tudo isso e muito mais que se afeta diretamente com tais decisões.
Ter essa noção é compreender que são justamente essas coisas que diante da crise podem nos parecer pequenas, mas são as que nos salvam a sanidade no fim de uma rotina pesada de trabalho, de um dia de amarguras.
É importante a compreensão de que cultura e educação são setores que andam juntos, pois são conceitos codependentes e complementares. Tirar investimento de um é prejudicar o outro em seu âmago também.
Diante do cenário político, econômico e cultural atual, iniciativas culturais independentes e uma postura de persistência são necessárias para mostrar que a cultura brasileira não está passível de enfrentar seu funeral.
Resistamos.
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