O evento que mobiliza o universo da arte em Curitiba chega aos 24 anos de história com uma programação extensa, que engloba mais de cem locais diferentes pela cidade. A autora que vos escreve, portanto, dedicará as próximas colunas para que você não fique perdido e tenha a oportunidade de conhecer todas as obras incríveis presentes em Curitiba.
Não sabe por onde começar? Não sabe quais os espaços culturais participantes da Bienal de Curitiba ou quem são os grandes artistas expondo? Então venha cá, porque hoje vou falar do MuMa (Museu Municipal de Arte). Semana passada falamos do Solar do Barão, e, antes disso, das exposições presentes no Museu Oscar Niemeyer.
MuMa
O MuMa (Museu Municipal de Arte) é um pequeno tesouro da cidade, por vezes pouco lembrado pelos curitibanos. Além de preservar, conservar e divulgar o acervo de arte do Município, o museu é conhecido por abraçar as iniciativas de jovens artistas e por oferecer um suporte bastante interessante à arte digital, com salas devidamente equipadas para exposições desse cunho.
Sua entrada é franca, e se você está querendo fazer uma tour low budget pela Bienal de Curitiba, o MuMa é um ótimo lugar para começar. Lá, podemos encontrar as exposições Youth Narrative: arte contemporânea por jovens artistas chineses, Profusão: Intersecções da Colagem Expandida, do Clube da Colagem de Curitiba, e parte das obras do Circuito Universitário da Bienal de Curitiba – Cubic.

Profusão: Intersecções da Colagem Expandida é mais uma joia dessa Bienal, com um acervo plural e rico. Imperdível.
Em Youth Narrative: arte contemporânea por jovens artistas chineses, a curadoria do chinês Zhang Zikang reúne meticulosamente o que há de mais novo sendo produzido nas diferentes regiões da China, tão distantes e diferentes entre si. O acervo da exposição é diverso, de aquarelas e óleo sobre telas a instalações e esculturas.
Por se tratarem de obras de artistas proeminentes e jovens, Youth Narrative carrega consigo uma atmosfera um tanto mais desprendida da China: a linha curatorial parece focar em uma arte mais globalizada, realmente antenada às tendências e urgências ocidentais.
Por parecer cosmopolita, determinadas obras poderiam facilmente ter sua nacionalidade confundida. As paletas de cores são em grande parte vivas, e muitas pinturas seguem a linha de um realismo mágico.
O trabalho potente desses jovens artistas revela, segundo o curador Zhang Zikang, a crescente abertura da sociedade chinesa e da liberação espiritual e artística das novas gerações. De fato, ao visitar a exposição, é possível perceber que esses artistas vem recriando o conceito de arte e seus meios de expressão na China, e, claro, também reverberando essas novas concepções no mundo.
O acervo de Youth Narrative é plural, vivo e grita contemporaneidade: em tempos sombrios de censura e questionamento quanto ao valor da arte contemporânea na sociedade, eu diria que a exposição é uma visita necessária.
Ainda dentro do circuito da Bienal, no MuMa também podemos encontrar o segmento de obras essencialmente digitais do Circuito Universitário da Bienal de Curitiba – lembrando que o Cubic se fragmenta em cinco diferentes espaços pela cidade. Aqui, encontramos projeções e vídeo-artes com elementos essencialmente da colagem. Super interessante.
Falando em colagem: por fim, porém não menos importante, encontramos no subsolo do MuMa uma representante essencialmente curitibana nessa Bienal. Profusão: Intersecções da Colagem Expandida é de autoria do Clube da Colagem de Curitiba, criado pelos artistas AMORIM, Mario de Alencar, Bomju, Cintia Ribas e Adriano Catenzaro.
Infelizmente, e ressalto aqui mais uma vez os tempos sombrios de censura que vivemos, o vereador Thiago Ferro (PSDB), após uma minuciosa visita ao MuMa para procurar pêlo em ovo e aderir à moda de controle sob a arte, julgou Profusão: Intersecções da Colagem Expandida inadequada para menores de 18 anos, restringindo a visita de escolas públicas à mostra.
Além dos mais criativos e diversos meios em que a colagem pode ser explorada, desde vídeo, performance e instalação ao clássico papel sobre papel, posso afirmar que não há nada, absolutamente nada, que fira a inocência e puritanismo de nossas crianças nessa exposição – lembrando que ao digitar a simples palavra “sexo” no Google, plataforma que qualquer um, independente da idade, tem acesso, você receberá uma aula muito mais consistente e gráfica do que é conjunção carnal do que qualquer exposição de arte contemporânea poderia te ensinar.
Profusão: Intersecções da Colagem Expandida é mais uma joia dessa Bienal, com um acervo plural e rico. Imperdível.
Na próxima semana será dada uma breve pausa em “Vamos falar de Bienal” para discutirmos o contexto político atual da cultura no Brasil. A Bienal Internacional de Curitiba segue até o dia 25 de fevereiro na cidade, mas não é desculpa para você deixar para ir na última hora.
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