Cores vibrantes, formas confusas. Gatinhos felizes, corações, retratos de celebridades sorridentes e até mesmo a ex-presidente Dilma: tudo isso é recorrente nos pincéis de Romero Britto.
De maneira incansável, o artista pernambucano reproduz há anos o mesmo estilo categoricamente caótico, tim tim por tim tim, sem se preocupar com seu esgotamento.
A verdade, no entanto, é que a sentença de morte definitiva da estética clássica de Romero Britto já paira sobre a cabeça do multimilionário há muito tempo, mas ele não parece se importar com o cheiro de podre.
São críticas duras, eu sei. Porém, devo dizer que meu fascínio antropológico e masoquista pela figura de Romero Britto já data alguns anos, o suficiente para que tenha feito questão de prestar atenção nos inúmeros produtos estampados com sua arte por aí, em uma infinitude de comércios diferentes.
Tal repulsa à imagem de uma obra de Britto, no entanto, não é fruto de uma crueldade inerente à classe artística (ou minha), e sim resultado de um gerenciamento de carreira absolutamente voltado ao mercado, e não à arte propriamente dita.
A verdade, no entanto, é que a sentença de morte definitiva da estética clássica de Romero Britto já paira sobre a cabeça do multimilionário há muito tempo.
Com um patrimônio estimado em US$ 20 milhões, o pintor, escultor e serigrafista ascendeu mundialmente após uma parceria com o publicitário Michael Roux, responsável pela campanha “Absolut Art”, da marca Absolut Vodka. Seria todo esse dinheiro o ápice de uma carreira na arte?
Percebam, no entanto, que minha aversão absoluta às obras de Britto não tem nada de pessoal – fico feliz com a ascensão econômica do pernambucano que não nasceu em berço de ouro. Porém, ver seu trabalho até em caixas de panetone não me desce a garganta. Romero optou por não evoluir e seguir repetindo uma fórmula batida, nada original, ao ponto de se tornar uma sátira.
A falta de originalidade do conjunto da obra beira ao fato de que, se buscamos seu trabalho no Google, é difícil distinguir quais são seus quadros e o que são fanarts. O padrão cunhado por Britto é fundamentalmente mimético, tão vazio como as infinitas mercadorias que estampa – mas o dinheiro continuará entrando por algum tempo, e é isso que importa.
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