Conheci a artista plástica curitibana Ida Hannemann de Campos em agosto de 2012, quando ela comemorava seus 90 anos de vida e 70 de arte. Na sala da sua casa, repleta de enfeites e com as paredes adornadas por seus quadros, me contou com uma precisão incrível sobre como começou a desenhar: nos jogos de amarelinha.
No meio dos quadrados, surgiam algumas figuras criadas pela menina, que nunca planejou ser artista: foi a mãe quem notou o dom e a levou para tomar aulas de desenho.
Depois das histórias contadas por ela, seguimos pelo quintal, com grama farta e pés de fruta, até o seu ateliê. Enquanto se abaixava para arrancar os matinhos que a incomodam nos canteiros, falou sobre o tempo que teve aulas com o ítalo-brasileiro Guido Viaro, na década de 1940. Dele, veio um conselho precioso: não fazer tudo tão “bonitinho”.
A lição não foi esquecida: Ida colocou, agora nesses 73 anos de produção, a criatividade em primeiro lugar. Na exposição Entre o pincel e a pena… há também o lápis e a caneta, em cartaz no Museu de Arte Contemporânea (MAC), de Curitiba, essa característica da artista fica latente em suas telas, nas suas gigantes e impressionantes tapeçarias e, claro, em seus desenhos espontâneos. Há também vários poemas escritos pela artista.
A mostra reúne trabalhos de várias fases de produção da artista, o que permite ao espectador perceber a sua evolução, e também as características que sempre estiveram com ela desde o início, quando pintou um de seus primeiros quadros, “Matinal”, um óleo sobre tela de 1943.
Aos 93 anos, ela se mantém ativa e trabalhando: o visitante pode ver trabalhos produzidos pela artista este ano, nas telas “Magia da Pedreira” e “O Movimento do Espelho D´Água” – ambos retratam a Pedreira Paulo Leminski.
A mostra reúne trabalhos de várias fases de produção da artista, o que permite ao espectador perceber a sua evolução.
Esse cotidiano da sua casa, de seus lugares preferidos da cidade e de outros temas corriqueiros servem como a maior inspiração para a artista. A natureza também lhe é cara: tanto a mais próxima de seu quintal (quando os filhos eram pequenos, ela os levava para um bosque atrás de casa. Enquanto brincavam, ela pintava) como a do Paraná, com pinheiros e a gralha azul. O mar e tudo o que o envolve, do surfista ao pescador, também parece ser um dos elementos que mais agradam Ida.
Toda a mostra – que traz obras tanto do acervo pessoal do artista quanto outras do acervo do MAC – apresenta a simplicidade da artista e suas recriações com a natureza. Mas preste atenção a uma sequência criada por ela nos anos 1960: nos quatro desenhos em tinta gráfica, ela conta o destino de uma gralha azul, em uma espécie de história em quadrinhos, e mostra mais uma de suas vertentes: a de contadora de histórias.
A exposição fica em cartaz até 21 de fevereiro de 2016.
Serviço | Entre o pincel e a pena… há também o lápis e a caneta
Onde: Museu de Arte Contemporânea do Paraná – R. Desembargador Westphalen, 16 – Centro, (41) 3323-5318.
Quando: De terça a sexta-feira, das 10h às 19 horas. Sábado e domingo, das 10h às 16 horas.
Quanto: Entrada franca.
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