Dia 31 de março de 2024 (alguns diriam que a data certa é 1º de abril) marca um dia trágico: completa-se 60 anos em que um golpe militar depôs o presidente brasileiro João Goulart e deu início à ditadura. Não há nada para se celebrar, mas também é preciso lembrar da história para que ela não se repita.
Por incrível que pareça, há ainda alguma discussão sobre se é mais recomendado ao Brasil “enterrar os mortos” na invisibilidade ou seguir falando abertamente sobre o trauma nacional. Por conta dessa segunda postura, algumas instituições brasileiras estão aproveitando a data para resgatar histórias do regime ditatorial, de modo a manter a memória sempre viva de tempos terríveis. Confira a seguir algumas dessas iniciativas.
Ocupações Memorial: Resistências na PUC-SP
No esforço em manter essa memória viva, o Memorial da Resistência de São Paulo promove a exposição Ocupações Memorial: Resistências na PUC-SP.
A mostra tem como proposta relembrar o papel de resistência concretizado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo diante ao cenário de autoritarismo que se assolava no país. A instituição teve uma participação importante na luta contra o regime ditatorial, atuando em diversas frentes. Entre elas, está o acolhimento de professores que foram expulsos de outras universidades, e a inauguração do Teatro da Universidade Católica de São Paulo (TUCA) em 1965, com a peça Morte e Vida Severina. Foi no mesmo TUCA, inclusive, que Caetano Veloso se apresentou cantando “É proibido proibir” em 1968. Vaiado em seguida, Caetano proferiu um discurso acusando o conservadorismo do público.
Por incrível que pareça, há ainda alguma discussão sobre se é mais recomendado ao Brasil “enterrar os mortos” na invisibilidade ou seguir falando abertamente sobre o trauma nacional.
Para contar esta história, a exposição foi organizada a partir de cinco eixos, denominados Invasão da PUC-SP e a resistência à ditadura; Docentes, artistas e intelectuais acolhidos pela PUC-SP; Comissão da Verdade da PUC-SP Reitora Nadir Gouvêa Kfouri; Arte e resistência no TUCA; e A defesa radical da democracia.
O local onde a mostra foi instalada é simbólica. O Memorial da Resistência (que fica no prédio onde funcionou o Departamento Estadual de Ordem Política e Social – Deops/SP) é o maior museu brasileiro dedicado à memória política das resistências e da luta pela democracia no país. Fundado em 2009, ele promove exposições, ações educativas e programações culturais gratuitas para difundir esse conhecimento.
Ciclo 60 anos de 64 no Sesc Pinheiros
Para marcar os 60 anos de golpe militar, no mês de março, o Sesc Pinheiros realiza várias atividades dentro do Ciclo 60 anos de 64, que faz parte de um projeto maior do Sesc SP, chamado 60 anos do Golpe – Novos Olhares sobre a Ditadura.
A programação é inteiramente gratuita, e visa abordar o tema a partir da exploração de linguagens do cinema e da literatura. O ciclo tem curadoria de Renan Quinalha e envolve quatro encontros, que são divididos em quatro partes: a exibição de um filme seguida pelo debate entre pessoas ligadas ao ativismo contra a ditadura.
Quinalha reflete que o ciclo visa contribuir com novas discussões sobre a memória do golpe. “O inventário das violências de Estado deste período é bastante expressivo. Não foi a ditadura quem inaugurou a prática institucional de torturas, prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados ou execuções sumárias em nosso país. Tais violências, praticadas e amparadas por agências estatais, remontam à época da ocupação do nosso território pela colonização portuguesa”, explica.
SERVIÇO | Ocupações Memorial: Resistências na PUC-SP
Onde: Memorial da Resistência – Largo General Osório, 66 – Santa Ifigênia | São Paulo – SP;
Quando: a partir de 9 de março;
Quanto: Gratuito.
SERVIÇO | Ciclo 60 anos de 64
Onde: Sesc Pinheiros – Rua Pais Leme, 195 – Pinheiros | São Paulo – SP;
Quando: a partir de 1º de março;
Quanto: Gratuito.
Próximos encontros:
Dia 15 de março de 2024
17h – Exibição – Resplendor (direção de Claudia Nunes e Érico Rassi, BR, 2019, 52 min).
19h – Bate-Papo – Povos indígenas na ditadura
Conversa entre Maria Rita Kehl (psicanalista e ex-integrante da Comissão Nacional da Verdade – CNV), Maíra Pankaruru (advogada e integrante da Comissão de Anistia), e Rafael Pacheco (antropólogo e pesquisador), com mediação de Rubens Valente, autor de Os Fuzis e As Flechas: a história de sangue e resistência indígenas na ditadura (2015).
Dia 22 de março de 2024
17h – Exibição – Osvaldão (direção de Vandré Fernandes, Fabio Bardella, André Michiles e Ana Petta, BR, 2014, 80 min).
19h – Bate-Papo – População e movimento negro na ditadura
Conversa entre Gabrielle Oliveira de Abreu (Instituto Vladimir Herzog), Milton Barbosa, o Miltão (Fundador do Movimento Negro Unificado – MNU) e Neon Cunha (mulher negra, ameríndia, transgênera e ativista independente), com mediação de Mário Medeiros, professor da Unicamp e escritor.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.