O Instituto Moreira Salles (IMS) acaba de consolidar um marco significativo na preservação do patrimônio histórico e artístico do Brasil, ao adquirir a coleção Cyrillo Hercules Florence. Este conjunto é uma janela para o legado de Hercules Florence, o visionário artista, naturalista e inventor que desempenhou um papel pioneiro nas áreas da fotografia e da impressão. Composta por cerca de 1.200 itens, a rica e diversificada coleção foi cuidadosamente reunida pelo neto de Florence, Cyrillo Hercules Florence, um renomado professor do Laboratório de Física da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Abrangendo uma ampla gama de disciplinas científicas, os itens da coleção oferecem uma visão abrangente das contribuições de Florence para o desenvolvimento dessas áreas.
Dentre os tesouros desta coleção, destacam-se as obras originais de Florence, incluindo pinturas, desenhos e aquarelas que retratam o Brasil do século XIX de forma única e cativante, parte deles criada durante a Expedição Langsdorff (1825-1829). Essas obras são uma janela para a rica diversidade da flora, da fauna e do modo de vida naquele período histórico.
Os manuscritos e documentos que compõem a coleção revelam os projetos, experimentos e descobertas de Hercules Florence. Além disso, essa coleção abriga exemplares raríssimos de seus experimentos fotográficos pioneiros, que confirmam Florence como um dos precursores da invenção da fotografia em nível mundial. São relíquias que narram a evolução da tecnologia fotográfica nas Américas.
Pioneiro da fotografia
Parte significativa da coleção é composta por documentos que detalham as descobertas e inovações de Florence em diferentes processos de impressão gráfica.
Parte significativa da coleção é composta por documentos que detalham as descobertas e inovações de Florence em diferentes processos de impressão gráfica, como a poligrafia e o papel inimitável. Florence não apenas explorou as possibilidades da fotografia, mas também revolucionou a maneira como o mundo visualizava a impressão.
Ao artista é atribuída a utilização do termo “fotografia” pela primeira vez no Brasil. Todavia, em vida, Florence considerava que seu pioneirismo era pouco conhecido. Segundo Filipe Salles, professor de fotografia no Instituto de Artes da Unicamp, essa era uma lamentação carregada pelo francês radicado em Campinas. “A técnica dele foi altamente revolucionária, só que isso ficou por aqui. Ele se ressentia disso, conjecturando que se tivesse retornado à Europa, talvez teria sido reconhecido como o verdadeiro inventor da fotografia”, explica.
Após se estabelecer em Campinas, em 1831, Florence não apenas continuou a explorar o Brasil, mas também se tornou um pioneiro da fotografia e um criador do processo de impressão gráfica da poligrafia. Homem de múltiplos talentos e uma figura inestimável na história do país, foi prejudicado por não ter conseguido patentear suas invenções. Esse fato certamente contribuiu para sua falta de reconhecimento durante sua vida. Seu trabalho foi redescoberto e estudado posteriormente por historiadores da fotografia e da impressão, o que permitiu que suas contribuições fossem admitidas como parte importante da história dessas artes.
Pesquisa e divulgação
Após a chegada ao IMS, a coleção está passando por um meticuloso processo de organização, triagem e inventário. Cada item está sendo examinado para avaliar seu estado de conservação e preservação. Ao mesmo tempo, estão em andamento as fases de pesquisa e catalogação, preparando o terreno para que essa riqueza cultural possa ser divulgada e compartilhada com o mundo.
A abertura para pesquisa online é a etapa final do processo de aquisição da coleção Cyrillo Hercules Florence pelo Instituto Moreira Salles. De acordo com a instituição, o movimento reflete o compromisso contínuo do IMS com a preservação do vasto legado histórico e artístico do Brasil. Este ano, a organização já disponibilizou cerca de 10 mil imagens de obras de seu acervo.
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