Desde o anúncio feito na Comic Con 2013, o mundo dos fãs dos quadrinhos vivia a expectativa para que este dia chegasse. E ele chegou. Estreia hoje nos cinemas brasileiros o aguardado longa Batman vs Superman – A Origem da Justiça, que entre outras coisas, apresenta Ben Affleck (Argo) no papel do Homem Morcego. Aliás, este fator gerou uma expectativa, por vezes, maior que o próprio longa-metragem.
Ben Affleck não tinha um histórico muito favorável entre os amantes de HQs. Sua atuação em Demolidor foi apontada como uma das causas para o fraco desempenho da franquia, que foi resgatada, apenas, com o seriado produzido em conjunto com a Netflix. Ele já havia sido cotado para o papel de Bruce Wayne anos atrás, justamente para um projeto que envolvia a Liga da Justiça.
Batman vs Superman – A Origem da Justiça parte de algum tempo após O Homem de Aço (2013), quando o Superman (Henry Cavill) confrontou o vilão Zod (Michael Shannon). Neste combate, parte da cidade de Metropolis foi arrasada e muitas vidas foram perdidas. Algumas pessoas, entre elas o Batman, não se conformaram com a situação, crendo que o Superman trouxe apenas o caos para a Terra.
Dessa forma, torna-se missão de vida de Bruce Wayne acabar com o Homem de Aço, fazendo com que o bilionário beire a obsessão, levando ao extremo a essência que permeia a trajetória do herói – “o fim justifica os meios”. Percebendo essa tensão entre ambos é que surge o papel de Lex Luthor (Jesse Eisenberg), que cria um incidente cuja responsabilidade recai sobre o Superman. E isso é o máximo possível a ser dito sobre o longa sem riscos de soltar spoilers.
Não levantar muitas expectativas sobre a atuação de Affleck torna a experiência de assistir a Batman vs Superman – A Origem da Justiça muito melhor, e isso não tem nada relacionado com o seu desempenho em tela. O ator dá conta do papel, sem comprometer em nada a história do Homem Morcego. Joga contra ele o peso do trabalho da trilogia de Christopher Nolan, muito mais do que o Batman de Christian Bale – bom lembrar, Adam West é, ainda, o melhor.
Não levantar muitas expectativas sobre a atuação de Affleck torna a experiência de assistir a Batman vs Superman – A Origem da Justiça muito melhor.
A estética realista utilizada por Nolan foi muito feliz (ruídos na imagem, a câmera na mão, cortes secos, etc), combinando com o clima de desesperança que cercava a própria existência de Bruce Wayne, um certo vazio existencial. Isso acaba por se perder aqui, já que, historicamente, os filmes do Homem de Aço são mais limpos, menos crus. Soma-se a isso as opções feitas pelo diretor, Zack Snyder (de O Homem de Aço). Mais do que um Superman messiânico, ele compôs um personagem complexo, sombrio, mas muito irregular. Ao tentar equilibrar isso fazendo uso, por exemplo, da fotografia e direção de arte, com pequenas sutilezas de diferenças entre um herói e outro, ele tornou o longa um tanto esquizofrênico.
Em contrapartida, criou um dos mais complexos Batman que já tenhamos visto. Bruce Wayne está cego pelo ódio. A vingança é um desejo muito maior do que a justiça (chegando a ser confundida constantemente), criando um cenário em que a humanidade é colocada em segundo plano – há um recorrente embate entre deuses, mitos e homens. Nessa dualidade, tipicamente humana – e muitas vezes associada como uma fraqueza do Homem Morcego -, o Batman aproxima-se muito mais de uma pessoa “comum”, com conflitos e crises internas que acabam por ditar seus passos. O tormento que provavelmente comanda parte de seus pensamentos é escancarado como nunca antes no cinema.
No meio desta batalha, o secundário Lex Luthor de Jesse Eisenberg é interessantíssimo. Ele serve como um bom equilíbrio entre os “falsos deuses” que vestem capas, ainda que resulte em um vilão muito próximo do Coringa, especialmente por sua insanidade. Se sua atuação pode ser vista, por um lado, como exagerada e descaracterizada do personagem dos quadrinhos, por outro é uma visão curiosa sobre uma mente obcecada pela destruição, pelo caos.
Aliás, o diretor Zack Snyder também compartilha dessa obsessão por destruição: muitas explosões e efeitos que são meramente alegorias, elementos para impactar, mas sem função lógica na obra. Junte a isso sua câmera que insiste em estragar muitas sequências entregando ao espectador que algo vai acontecer, diminuindo o próprio impacto por ele definido como objetivo.
Agora, uma coisa é fato: o filme deve agradar em cheio os fãs, principalmente por flertar com vários elementos das histórias em quadrinhos, além do óbvio que é juntar dois dos mais icônicos heróis da DC. Para essa turma, duas horas e meia de puro delírio.
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