Bob Marley nasceu em 1945, filho de uma mãe negra de 18 anos e de um homem branco muito mais velho, que não teve envolvimento com ele. Cresceu na pobreza e, muitas vezes, dormia no chão frio. Aos 17 anos, após cinco anos em Trench Town, região pobre de Kingston, capital da Jamaica, ele gravou sua primeira música. Tornou-se, em pouco tempo, um grande nome local do reggae
Marley, nos anos que se seguiram, virou não apenas um ícone desse gênero musical, do rastafarianismo e da Jamaica, mas também da revolução, da resistência e da paz. Seu legado musical, com canções como “Redemption Song”, “No Woman No Cry”, “War”, “Trench Town Rock”, “Get Up Stand Up”, “Lively Up Yourself” e “One Love People Get Ready”, só cresceu com o tempo.
Bob Marley: One Love, dirigido por Reinaldo Marcus Green, de King Richard: Criando Campeãs, tenta capturar a essência de Marley, focando em sua consciência política e em detalhes da vida. No entanto, apesar dos esforços, o filme não consegue abarcar completamente o poder e a complexidade de Marley. Vai pouco além do mito, do que já se sabe.
‘One Love’: flashbacks clichês
A trama abrange os anos de 1976 a 1978: Marley já uma figura política importante na Jamaica, planeja um concerto para promover a união e deter a violência causada por dois líderes políticos em conflito.
A trama do filme abrange os anos de 1976 a 1978: Marley, já uma figura política importante na Jamaica, planeja um concerto para promover a união e deter a violência causada por dois líderes políticos em conflito. Somos rapidamente apresentados à sua extensa família, a esposa Rita, seu empresário Don Taylor e alguns itegrantes dos Wailers, sua banda de apoio.
A vida do cantor, constantemente ameaçada, é mostrada em um complexo cercado por muros altos e homens armados, o que nunca é explicado muito bem. No entanto, além desses detalhes superficiais, pouco mais é explorado sobre o cantor, exceto seu amor por corridas e futebol.
A narrativa do filme é repleta de flashbacks clichês que tentam explicar rapidamente a infância difícil de Marley, seu relacionamento com Rita e o início da carreira dos Wailers. Essas cenas, combinadas com a iluminação exageradamente melodramática e as cenas banais no estúdio de gravação, contribuem para uma representação superficial e desinteressante da vida do artista.
Ao longo do filme, falta uma abordagem mais profunda sobre a visão política de Marley, sua religião ou mesmo a respeito do reggae como expressão cultural. Em vez disso, Green opta por mostrar os personagens com perucas ruins e diálogos previsíveis, enquanto as músicas marcantes de Marley são relegadas a segundo plano em situações muito banais. São meramente ilustrativas.
A interpretação de Ben Kingsley-Adir como Marley é notável pela voz, pelo sotaque jamaicano, mas não captura a dinâmica física e a velocidade carismática do verdadeiro Marley em cena. O filme se concentra no período após um tiroteio em 1976 que feriu Marley, mostrando-o mais reflexivo em exílio autoimposto em Londres, durante sua turnê pela Europa, a gravação do álbum clássico Exodus, de 1977, até o cantor receber o diagnóstico de um melanoma (câncer de pele), que o mataria anos mais tarde.
Embora tente retratar um Marley mais reservado, o filme luta para criar um retrato coeso, mas não dá conta disso e fica apenas na superfície.
One Love destaca a vida comunitária de Marley, porém falha em desenvolver outros personagens de forma vívida, mais pulsante, como os músicos Peter Tosh e Bunny Wailer, ou mesmo a mulher do cantor, Rita Marley. Apesar de o filme ter alguns poucos momentos de brilho, em geral, não consegue capturar completamente a energia e a transcendência que Marley representava fora do palco.
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