O italiano A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2014, é um delírio visual, auditivo e reflexivo. Tem câmera que desliza com facilidade, trilha sonora eclética e protagonista que hipnotiza, interpretado por Toni Servillo.
Inspirado em A Doce Vida, de Federico Fellini, A Grande Beleza usa e abusa de festas para compor um retrato sobre o vazio da aristocracia, além de ter diálogos, cenas e edição que abrem margem a múltiplas interpretações.
O francês O Capital (2012), dirigido por Constantin Costa-Gavras, mostra uma espécie de “Robin Hood às avessas”, já que tem como protagonista um banqueiro que se vangloria de roubar dos pobres para entregar aos ricos.
Assim, o filme expõe uma crítica ácida ao sistema bancário global e suas consequências na sociedade. Serve como retrato estonteante da ganância, dos jogos de interesses, da forma como relacionamentos são formatados em nome do lucro.
O canadense Cosmópolis (2012), dirigido por David Cronenberg, também tem muita acidez em cada fotograma: convida a refletir sobre uma realidade manchada por crise econômica mundial, vazios existenciais e colapsos individuais e coletivos. Irônico, o filme menciona que o simples suspiro de uma autoridade política da área de finanças pode provocar agitação ou calmaria dos mercados.
Com câmera de movimentos e enquadramentos elegantes, utilização poética e contextualizada de sons de pássaros e uma coleção de diálogos cheios de conteúdo, As Confissões é capaz de prender pelo suspense, pelas provocações e pela beleza daquilo que expõe em termos visuais e auditivos.
Pois saiba que As Confissões (2016), dirigido pelo italiano Roberto Andò, lembra A Grande Beleza, O Capital e Cosmópolis. Os ministros da economia dos países mais ricos do mundo, o G-8, reúnem-se para decidir sobre uma manobra que afetará bilhões de pessoas.
Além dos políticos, estão presentes um roqueiro, uma escritora e um monge, interpretado por Toni Servillo (eis a relação mais evidente com A Grande Beleza). O religioso (é possível ver alguma semelhança com a linha de pensamento do Papa Francisco) torna-se peça fundamental de um mistério que poderá mudar completamente o rumo da votação a ser feita pelos integrantes do G-8.
O esforço para melhorar o mundo acaba deixando-o pior. Bancos são como “sociedades secretas modernas”. Economistas demonstram mais interesse pelas noções abstratas de medidas de austeridade do que por suas consequências reais.
Artistas apresentam maior propensão ao suicídio do que banqueiros porque são menos sensíveis e resistentes à ideia de que “a vida é imperfeita”. Menções, definições e observações como essas pontilham o roteiro.
Com câmera de movimentos e enquadramentos elegantes, utilização poética e contextualizada de sons de pássaros e uma coleção de diálogos cheios de conteúdo, As Confissões é capaz de prender pelo suspense, pelas provocações e pela beleza daquilo que expõe em termos visuais e auditivos. A história mantém a sensação perene de gravidade, mas sem cansar. Ao contrário: o espectador tende a ser mais e mais absorvido. É ficção. Mas nem tanto assim.
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