Uma viagem inocente para explorar novos cantos e quebrar a monotonia do cotidiano, se entupir de bebidas, sexo e talvez drogas, descobrindo todos os prazeres do mundo. Poderia ser enredo de filme meio adolescente metido a transgressor, se não fosse um personagem aceitar uma caixinha misteriosa que o leva à dimensão onde o prazer ultrapassa seus conceitos.
A premissa pode interessar, mas infelizmente a empolgação para nisso. Em Hellraiser: Revelations, quem atravessa os limites da existência é apenas o personagem, enquanto quem assiste ganha poucas razões para gostar do filme. Vamos abrir esta caixa.
O enredo mostra uma família em conflito, pois os garotos Nico e Steven se envolveram em uma confusão e alguns membros se calam. A mãe de um deles assiste em uma câmera portátil a uma situação em que Nico e Steven se assustam com a presença de um ‘estranho’ cujo rosto está forrado de espinhos, e o vídeo dá a entender que Nico sucumbe às ações deste.
O tal estranho de rosto perfurado é o cenobita Pinhead, anjo para alguns e demônio para outros, segundo a definição do Pinhead lá do primeiro filme da saga Hellraiser, final da década de 80. Com muita insistência e furto de câmera, Emma – irmã de Steven que estava saindo com Nico – assiste ao vídeo e descobre mais sobre o que a família não discute, talvez por não compreender ou não saber como lidar, ou mistura de ambos.
O ritmo perde força com flashbacks excessivos e uma narração visual muito lenta, faltando pouco para o excessivo núcleo de personagens perder mais tempo brigando entre si do que descobrir algo.
É justo na história e na forma como ela é contada que Hellraiser Revelations deixa a desejar. Os méritos ficam evidentes nos primeiros minutos, pois o filme ambienta a saga em nossa época com uma boa produção visual, principalmente nas cenas gore que também caracterizam o terror da franquia.
Mas é só isso. O ritmo perde força com flashbacks excessivos e uma narração visual muito lenta, faltando pouco para o excessivo núcleo de personagens perder mais tempo brigando entre si do que descobrir algo. Quando se esclarece o contato do cenobita (que tem uma equipe pífia quando comparada a dos filmes anteriores) com os garotos, o filme traz um pouco da identidade da franquia: personagens em busca de prazer extremo o encontram sem ideia do custo real desse gozo. Mas depois isso se reduz a um adolescente berrando idiotamente com uma arma nas mãos perante a família e adeus hedonismo extremo.
Até o cenobita Pinhead apanhou. Não foi Douglas Bradley quem interpretou a besta amoral que virou ícone da franquia, mas isso poderia aborrecer menos se o novo Pinhead fosse mais ameaçador, pois o porte e a expressão facial deste atual não convencem. Aliás, a voz também incomoda porque faltou o vocabulário trash imponente do seu antecessor. Nada de frases memoráveis feito “your suffering will be legendary even in hell” (Seu sofrimento será lendário até no inferno), ou a mais “famosa” vociferada no primeiro filme: “We’ll tear your soul apart” (“Nós vamos destruir sua alma).
Que fosse uma inocente para os padrões da saga: “no tears, please. That’s a waste of good suffering” (sem lágrimas, por favor. Isso é desperdício de um bom sofrimento). Faltou transmitir a sensação de que o filme tenha um jeito mais ‘seu’, sobrou uma tentativa monótona de adicionar uma história extra à adaptação da obra de Clive Barker. Isso é desperdício de boas e de más correntes.
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