O romance pacifista Nada de Novo no Front, de Erich Maria Ramarque, foi adaptado para o cinema em 1930, pelo diretor Lewis Milestone. A produção, homônima ao livro, venceu os Oscar de melhor filme e direção. Noventa e dois anos depois, a obra ganha uma nova versão, agora no idioma em que foi escrita, e construída a partir de uma perspectiva mais contemporânea.
Recordista neste ano em número de indicações ao BAFTA (o Oscar britânico), 14 ao todo, Nada de Novo no Front foi indicado hoje ao Oscar em nove categorias: melhor filme, filme internacional, roteiro adaptado, fotografia, trilha sonora, design de produção, cabelo & maquiagem, efeitos visuais e som.
Dirigido pelo alemão Edward Berger, o potente longa-metragem, coproduzido e lançado pela Netflix, acompanha a trágica jornada de Paul Baumer (o expressivo Felix Kammerer), jovem soldado alemão que, movido pela ingenuidade e pelo patriotismo, se alista no Exército antes de completar 18 anos, e sem a permissão do pai.
O rapaz e seus amigos, igualmente empolgados pela perspectiva de defender a pátria, são enviados à região fronteiriça entre Alemanha e a França, onde ocorreram alguns dos confrontos mais cruéis, e milhões morreram.

Embora seja fundamentalmente um filme de guerra, Nada de Novo no Front passa ao largo do heroísmo. Longe disso. Os primeiros planos do filme já deixam claro que, para além das batalhas que o longa retrata, algumas bastante gráficas, a discussão proposta, já presente no livro que o originou, é mais transcendente, filosófica
Primeiro vemos a harmonia de raposas descansando e se alimentando em sua toca, alheias à guerra. Segundos mais tarde, a tela é preenchida por um campo de batalha, tomado por corpos, sendo bombardeado. O choque entre essas imagens, por meio da montagem, na melhor tradição materialista dialética soviética, nos leva às nossas próprias conclusões.
‘Nada de Novo no Front’: absurdo
Embora seja fundamentalmente um filme de guerra, Nada de Novo no Front passa ao largo do heroísmo.
Nada de Novo no Front não propõe uma discussão sobre as causas geopolíticas e históricas da Primeira Guerra Mundial. Berger acompanha Paul durante seu tempo como soldado, a extrema violência, física e psicológica, a que é submetido, para tecer uma obra que denuncia o absurdo do conflito, da guerra em si.
Os soldados, muitos deles ainda meninos, mal sabem por que estão ali, e buscam apenas sobreviver, enquanto os governos de França e Alemanha, e seus respectivos comandantes, negociam, em segurança e conforto, o armistício, o fim da guerra. De novo, a montagem paralela nos estimula a fazer um exercício dialético.
O processo de desumanização do protagonista, e de alguns de seus coadjuvantes, está no cerne da narrativa de Nada de Novo no Front, cujo roteiro, fragmentado, associado à belíssima direção de fotografia de James Friend, nos conduz a um mergulho angustiante e claustrofóbico na subjetividade da narrativa.
Há quem julgue excessivamente explícitas algumas cenas de violência. Discordo e as julgo essenciais para retratar como e por que Paul vai aos poucos perdendo a fé e a sanidade, depois da inocência.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Para continuar a existir, Escotilha precisa que você assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Se preferir, pode enviar um PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.