“O Pequeno Príncipe não é uma história para crianças, sobre crianças, nem uma fábula para boi dormir. Pode ter o valor da perpetuidade em seu enredo atemporal”. Foi desta forma que Marina Aranha procurou sintetizar a obra clássica escrita por Saint-Exupéry em sua análise do clássico, feita neste mesmo portal (leia aqui). E estava correta. Ao contrário do que alguém possa imaginar, mesmo tratando-se de uma animação, O Pequeno Príncipe, dirigido por Mark Osborne (de Kung Fu Panda), não é direcionado apenas ao público infantil.
O longa-metragem, que estreia hoje nos cinemas brasileiros, narra em partes a mesma história do solitário menino que vivia em um asteroide e, ao viajar pelo espaço, encontra um aviador perdido no deserto. Porém, há um acréscimo que dá um sopro de vigor a trama: Osborne não procurou ser fidedigno ao livro. Ainda assim, O Pequeno Príncipe é tocante, em parte pela enorme carga emocional carregada pelo conjunto da obra.
O eixo central da história gira em torno da uma garotinha, filha de uma mãe excessivamente rígida e controladora, que planeja cada passo seu de forma minuciosa. O cruzamento da obra de Saint-Exupéry com as ideias de Osborne ocorre aí, quando a pequena garota conhece seu vizinho, um velho aviador que lhe conta a história de um pequeno príncipe.
Um grande acerto de Mark Osborne foi transportar o livro para o cinema, utilizando-o como massa bruta para narrar uma história que ganha muito em dramaticidade (e realidade, por que não?). A vida da garotinha, cheia de regras rígidas e preocupações, pode servir de paralelo para analisarmos nossa própria relação com o mundo que nos cerca e coloca em cheque a criação das crianças “modernas”. Afinal, ter sobrepõe o ser?
Um grande acerto de Mark Osborne foi transportar o livro para o cinema, utilizando-o como massa bruta para narrar uma história que ganha muito em dramaticidade.
Isso é escancarado com o uso de cores – a contraposição entre os tons sóbrios da vida da pequena garota e as cores vivas de seu vizinho e quando entra em contato com a história do príncipe. Vale ressaltar, também, as diferentes técnicas de animação utilizadas: para a garotinha, a computadorizada, enquanto para o pequeno príncipe, o stop motion. E é toda essa simbologia que garante maturidade ao longa-metragem.
O Pequeno Príncipe não é de todo perfeito. Osborne se perde ao trazer muitos conceitos e depois ir deixando-os pelo caminho, parecendo ter optado pelo que comovesse, ao invés de deixar uma marca verdadeiramente indelével. Obviamente que isto não torna o longa ruim, apenas causa certa frustração.
Contudo, a história, a brilhante trilha sonora (a cargo de Hans Zimmer e Richard Harvey) e os personagens (todos, sem exceção) transmitem mensagens, conectam-se com várias gerações (em diferentes níveis, é claro) e agradam pelo simples prazer de fazer acreditar no poder (e na importância) da imaginação.
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