Longa-metragem dirigido pelo cineasta José Eduardo Belmonte e escrito por Raphael Montes, autor e roteirista de Bom Dia, Verônica, Uma Família Feliz começa de maneira intrigante, mostrando uma cena macabra que contrasta com a aparente perfeição da vida familiar que a ele conduz. Essa dualidade é acentuada pela descrição detalhada do cenário idealizado: uma família com um marido atencioso, três filhos e uma casa impecável, quase imaculada. No entanto, logo somos apresentados a um ambiente sinistro, onde situações perturbadoras começam a se desenrolar, ecoando obras cinematográficas conhecidas por seu suspense e horror.
Eva, a matriarca desta família aparentemente perfeita, vivida por Grazi Massafera, é apresentada como uma personagem complexa, lutando para lidar com os desafios impostos pela maternidade e pelos segredos que começam a emergir. O filme mergulha na vida da classe média brasileira, revelando as fragilidades escondidas por trás das fachadas de perfeição, em um condomínio que parece ser o epítome da felicidade suburbana. A ação se passa no Rio de Janeiro, mas teve suas cenas rodadas em Curitiba, reconhecível em alguns momentos. O elenco também conta com participação de talentos da cena paranaense, como Guenia Lemos, Edson Rocha e Raquel Rizzo.
O título do filme, Uma Família Feliz, sugere ironia e provocação, enquanto os nomes dos personagens principais, Eva e Vicente, carregam significados simbólicos que delineiam arquétipos de busca por validação e sucesso material. A adição da personagem Clarinha, uma garota negra adotada pela vizinha de Eva, acrescenta uma camada adicional de comentário social sobre assimilação cultural – ela é negra.
Belmonte conduz habilmente o filme, mantendo uma tensão sutil enquanto explora temas como cancelamento nas redes sociais, subestimação da arte feminina e dinâmica familiar complexa.
À medida que a trama se desenrola, somos levados a explorar as angústias enfrentadas por Eva, especialmente após a chegada de seu bebê, Lucas, e a subsequente revelação de eventos misteriosos e perturbadores, que envolvem a criança e as duas filhas de Vicente, Ângela e Sara. Belmonte, diretor dos premiados A Concepção e Se Nada Mais Der Certo, conduz habilmente o filme, mantendo uma tensão sutil enquanto explora temas como cancelamento nas redes sociais, subestimação da arte feminina e dinâmica familiar complexa.
No entanto, o filme tropeça em sua conclusão, entregando uma revelação simplista que não recebe a análise sociológica ou psicológica adequada, diminuindo o impacto crítico da narrativa. Tudo ocorre muito rapidamente, de forma meio atabalhoada. Apesar disso, há momentos de reflexão, especialmente em uma cena pós-créditos, que destaca a crítica social e política subjacente.
As performances dos protagonistas, especialmente de Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini, são convincentes, embora alguns personagens secundários corram o risco de se tornarem caricaturas – afinal, na vida real, essas pessoas confinadas em condomínios são mesmo caricatas, de certa forma. Em última análise, Uma Família Feliz apresenta uma narrativa complexa e habilmente construída, mas falha em realizar plenamente seu potencial crítico.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.