É praticamente impossível ver um B-Boy dançando e não ficar boquiaberto.
Afinal, ele corta o ar e desafia a lei da gravidade. Ao mesmo tempo, se mantém ligado à terra quando faz o chão quase pegar fogo com movimentos que lembram a maleabilidade da água.
Entretanto, algumas dessas ações que aparecem eventualmente na televisão não são assim tão ligadas à ancestralidade do breaking.
Isso porque essas movimentações mais acrobáticas conhecidas como power moves são apenas a parte visualmente mais atrativa e não representam a totalidade da dança que teve início nos anos 70 em Nova York sob a batuta de Kool Herc, pai do hip-hop e principal responsável por realizar as festas onde os quatro elementos da cultura estavam reunidos. A saber: DJ, MC, B.boy e Graffiti writer.
Na época em que as primeiras block parties do DJ jamaicano aconteciam no Bronx o breaking era composto pelos movimentos conhecidos como toprock e footwork, que incorporaram rapidamente o uprock e o freeze enquanto que paralelamente, mas na Califórnia, já se desenvolvia o popping, o locking, o boogaloo e o roboting, movimentos que compõe a essência da dança.
Mas, assim como no rap em que às vezes o que chega ao grande público são só os grupos que prezam pela ostentação, o que causa a sensação de que o gênero é composto somente por aquilo, quanto ao b.boying não é muito diferente. Por isso, o que vemos, na maioria das vezes são somente os movimentos acrobáticos que mais impressionam, mas que não transmitem os fundamentos da dança de rua.
Um dos grupos, ou crews, responsáveis por levar essa imagem para o público em geral foi a New York City Breakers, que difundiu a dança de rua comercialmente ao se apresentar em programas de TV e anúncios publicitários.
‘A metade da festa ficava dentro e a metade ficava lá fora. Era lotado assim, até que em um verão dei a minha primeira block party aqui entre os prédios e avisei-os que para onde ia minha carreira, para onde iam os clientes, não podíamos voltar para cá.’ DJ Kool Herc.
Mas os programas passam enquanto a cultura fica. Por isso, é possível ter acesso a materiais que resgatam a base do movimento hip-hop.
O documentário The Freshest Kids: The History of B.Boy é uma dessas importantes fontes e traça a história do breaking desde os seus primeiros passos nas festas de Kool Herc até o começo dos anos 2000, período em que o vídeo foi lançado.
Com a direção de Israel, a película conta com o depoimento de figuras que fizeram parte da história do hip-hop e aborda todos os aspectos que fazem do breaking uma dança que impressiona, mas que se mantém próxima à essência.
O próprio Kool Herc e Afrika Bambaataa são alguns dos entrevistados da película que conta ainda com representantes do rap como Mos Def, Jurassic 5, KRS-one, Redman, Rakim e Fat Joe e, claro, os próprios b.boys que construíram essa história, como Crazy Legs, Mr. Freeze, Mr. Wiggles, Trac 2, Frosty freeze, Spy, Jojo e The Nigga Twis.
Com os depoimentos de quem viu e viveu a história é que o documentário narra o começo de tudo e abrange diversos aspectos que envolveram a dança, como as principais crews, atendo-se especialmente à Rocky Stead, a contribuição para a dança vinda de diferentes áreas do país e de variadas etnias, os filmes que retratam o movimento, como Wild Style e Beat Street, o surgimento do breakbeat e as principais músicas para o breakdance, o espírito competitivo das batalhas, a comparação com outras danças, o espírito combativo e os problemas com a polícia e também as novas gerações.
Um dos tópicos que merece destaque é a “decadência” do breaking que se deu com a ascensão do rap, que embora contasse com o esforço de alguns artistas para manter a cultura unida, como KRS-one, acabou sendo prejudicado pelo gangsta rap, que levou muitos b.boys a deixarem a sua atividade para se dedicar ao crime, o que inevitavelmente também levou muitos deles à morte.
Por outro lado, é cativante ver os B.boys falando com orgulho de como a atividade que começou com eles se espalhou pelo mundo e hoje se mantém viva em qualquer canto do globo.
Para voltar às origens o documentário é fundamental aos que desejam conhecer a essência do movimento hip-hop, bem como compreender que a real importância da dança de rua vai muito além dos movimentos surpreendentes.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Para continuar a existir, Escotilha precisa que você assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Se preferir, pode enviar um PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.