Você acorda dentro da caixa onde mora e tão logo está dentro de outra.
Essa, a caixa motorizada, fará com que você se transporte para dentro da caixa onde passa a maior parte da vida, que precisa ser vendida em troca da sobrevivência.
Às 18 horas, finalmente, você está liberado para voltar à caixa motorizada.
Como se preocupa com a estética, você se mexe um pouco dentro de uma caixa que simula o que poderia ser feito ao ar livre.
No final do dia, você retorna para a mesma caixa em que acordou.
Essa é a sua vida na grande caixa chamada cidade, onde é possível viver tendo o mínimo de contato possível com o ser humano.
Mas, você venceu na vida. Você tem um carro. 🙂
Essa é a rotina de muitas pessoas que vivem nas metrópoles brasileiras, mas é possível que o uso da bicicleta crie uma relação mais humana com a cidade e seus habitantes.
Assim, a narrativa apresenta uma história de superação do medo que se mostra representativa para todos que um dia pensaram em usar a bicicleta, mas deixaram o plano de lado.
Isso é o que mostra o documentário Ciclos. Dirigido por Alexandre Charro e produzido por meio de uma parceira entre a Vice e o banco Itaú, o audiovisual se dedica sobretudo a mostrar quem são algumas das pessoas que incorporam a bicicleta na sua rotina não só como meio de transporte, mas também de trabalho, lazer, exercício e, acima de tudo, um estilo de vida.
Essa forma de viver está implícita na escolha dos três personagens principais do videodocumentário. Eduardo Magrão é professor e cicloativista, Carolina Ikeda é empresária e florista enquanto Lorena Garrido é advogada e atriz. Dessa maneira, cada um a seu modo, por meio da educação, do contato com a natureza e como artista, os personagens carregam uma sensibilidade aflorada para a vida em comunidade.
Assim, a bicicleta se torna uma das formas de atingir aquilo que eles acreditam ser uma melhor vida em sociedade. Para isso, Magrão pedala também acompanhado da filha, apresentando uma certa fragilidade que se assume quando opta por esse meio, sendo o ciclista, ao mesmo tempo, o mais preocupado e o mais frágil na luta por um trânsito melhor.
Para estabelecer um paralelo com a fala dos personagens, o documentário também exibe alguns dados, expondo, por exemplo, o fato de que 83% dos paulistanos deixaria de usar carro se houvesse uma boa alternativa (Fecomércio/2015). Há ainda, entrevistas mais curtas como a de Agustín Martinez, um dos fundadores da Bicetekas na Cidade do México. Dessa maneira, há uma fundamentação maior daquilo que os personagens dizem e vivem, estabelecendo uma discussão ora racional, ora emocional.
Esse viés se concentra especialmente em Lorena, que embora tenha o desejo de andar de bike, sente a insegurança causada pela gigante São Paulo. O medo, no entanto, é vencido com o auxílio de Fabíola Maia, instrutora voluntária da organização Bike Anjo.
Com a ajuda dela, Lorena e os espectadores percebem a necessidade de compartilhar a via e perceber que o ciclista tem o direito de usá-la tanto quanto os carros, o que parece muito óbvio, mas na prática esse é um respeito que, se existisse, não haveria a necessidade de ciclovias.
Assim, a narrativa apresenta uma história de superação do medo que se mostra representativa para todos que um dia pensaram em usar a bicicleta, mas deixaram o plano de lado.
Dessa maneira, o documentário talvez seja mais voltado para quem ainda não aderiu à bicicleta. Isso porque, para aqueles que já a utilizam, o audiovisual é uma maneira de se ver refletido. Para os demais, é uma forma de refletir sobre o outro, sobre si, a cidade e a sociedade.
https://www.youtube.com/watch?v=WHO31WxVwCE
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