2016 foi um ano bastante produtivo para o rap de Curitiba. Mas se houve um aumento no volume de produções é possível dizer também que ocorreu uma evolução na qualidade das criações.
Com características e qualidades distintas, a lista a seguir reúne aquilo que teve maior êxito, de acordo com uma opinião pessoal, e movimentou o cenário durante o ano que se passou.
Os fatores que fazem com os trabalhos mereçam figurar na lista estão mencionados no texto que apresenta cada uma das obras.
Espera-se com isso que a cena local possa ser cada vez mais valorizada e que em 2017 surjam mais gravações com qualidade superior.
Confira abaixo quais são os melhores discos de rap de Curitiba em 2016:
- Nome Sujo – 0800 Crew
Se o lançamento de Liga Nóiz em 2015 fez com que a 0800 Crew aparecesse de forma promissora ao apresentar rimas metafóricas, criativas e bem-humoradas, Nome Sujo demonstrou muitos outros artifícios que fazem com que a “cambada” seja hoje o grupo de CWB com a maior probabilidade de ascender ao mercado nacional.
O próprio lançamento em si demonstra um profissionalismo visto em poucos dos artistas na cena curitibana, uma vez que apenas um ano após sua estreia a trupe colocou na rua um novo álbum com 25 faixas.
Mas não é só o volume da produção que os dá destaque, já que houve uma evolução musical bastante grande em um curto período, o que pode ser explicado em parte pelo fato de Rodrigo Zin ter sido incluído oficialmente no grupo ao lado de Dé Saiyajin, Asiátiko e Chefe TF.
Além disso, a 0800 Crew expõe em Nome Sujo uma articulação nunca vista antes na história desse país, reunindo artistas da velha e da nova escola e contando com participações vindas de todas as regiões do Brasil.
O nome de cada um é inviável citar. Melhor ouvir.
Disponível no YouTube e 4Shared.
- Sentido Litoral – Delumbra
Do hardcore ao reggae. Do skate ao surf. Da visão crítica à positividade. Da indignação com o governo Beto Richa ao relax trazido pelas ondas.
Promovendo uma verdadeira viagem musical, Sentido Litoral faz com que a mistura entre opostos se dê de maneira harmoniosa e o ouvinte acompanhe passo a passo e música a música a chegada do Delumbra até a praia.
Disponível no YouTube, iTunes, Spotify, Deezer, Google Play, SoundCloud e Amazon.
- Meiokilo VS Dingo
A influência do ambiente no sujeito.
Esse é o dilema que dá tônica ao EP Meiokilo VS Dingo, lançado pela produtora SnareKick, responsável por dar voz a diversos artistas da cidade, mas que só agora coloca na rua o trabalho de um dos seus idealizadores.
E valeu a pena esperar, uma vez que o beatmaker Dingo construiu um ambiente sonoro pesado e sombrio para que Meiokilo expressasse os dilemas de um sujeito que tropeça e passa pelas provações da vida. O eu lírico em questão por vezes ganha tons biográficos e assume uma posição de conselheiro, não com a leveza de uma mãe, mas sim com a severidade de um pai ou irmão mais velho que, se necessário, dá um tapa na cara do ouvinte.
Disponível no Bandcamp.
Meiokilo Vs. Dingo by Meiokilo, Dingo
- Cartão Postal – Pok Sombra & Dario
Uma mensagem curta, mas eficiente para provocar emoções.
Assim é o Cartão Postal enviado pelo MC pelotense Pok Sombra e o beatmaker curitibano Dario, que expõe a sua versatilidade ao compor um cenário pesado para o rapper Sujeito Sujo e também promover a delicadeza necessária nessa parceria que mostra que a distância nem sempre afasta.
Disponível no YouTube, ONErpm, Spotify, Deezer e iTunes.
https://www.youtube.com/watch?v=cpOOJz1YqRU
- Recuar – Power Of Saliva
É possível recuar para frente?
A banda Power Of Saliva prova que sim. Isso porque o progresso encontrado pelo grupo se deu por meio de uma volta aos anos 90 e 00 quando ocorreu uma mistura entre o rap e o rock.
E para mesclar esses elementos ninguém melhor do que o MC Alienação Afrofuturista, que tem trânsito livre entre o rap e o dubstep e demonstra com o álbum Recuar que o rock também faz parte do seu imenso leque musical.
Agora acompanhado por Rafael Borck Soares (Bateria), Erick Pardo (Baixo) e Daryoush Shahidi (Guitarra), o vocalista deu à algumas das suas músicas versões orgânicas, mostrando que a sua obra soa bem em qualquer ritmo.
Disponível no YouTube.
https://www.youtube.com/playlist?list=PLQuvW25UKJj7gUhv1OaNEZDV1JqekP9nC
- Apollogia – São Nunca
O grupo curitibano São Nunca tem uma identidade bastante definida.
A característica construída por meio de Demonstra São Nunca (2009), 3×1 (2010), O Lado Verde da Força (2010), Santo Forte (2011), Neblina (2013) e 4×1 (2015) faz com que o ouvinte já saiba o que esperar quando colocar para tocar o duplo Apollogia.
Músicas cantadas com vontade e com verdade marcam essa homenagem ao deus Apolo que se divide em “Dia” e “Noite”, tendo cada CD 12 músicas que podem ser ouvidas uma a cada hora do dia.
Nesse sentido, o São Nunca mais uma vez alcança êxito ao trazer no primeiro disco músicas que servem de inspiração para a luta diária enquanto a segunda parte é dedicada à curtição, festas, amores e drogas.
Disponível no YouTube e ONErpm.
- Amanhã – Símio
2016 foi o ano em que o amanhã chegou e Luis Cilho se transformou em Símio.
Depois de seis anos na carreira solo, que contou com os EPs Ontem e Hoje, o responsável pela produtora Tiranossauro REC lançou o seu primeiro CD questionando a suposta evolução da humanidade e demonstrando o quanto o passar dos anos contribuiu para a sua própria evolução.
Disponível no YouTube, iTunes e Spotify.
- Sem Ficção Nem Maquiagem – Sujeito Sujo
O MC Sujeito Sujo pode ser visto como um representante legítimo da vertente de um rap pesado que fala sem trava da violência e de tudo aquilo que envolve a realidade das ruas.
Mas, se essa linha para alguns parece ultrapassada, ele a mantém viva ao apresentar uma nova roupagem e trazer um refinamento maior do que a da maioria dos representantes desse viés.
E se o próprio nome do artista e do seu disco de estreia já demonstram como se trata o seu som é também possível encontrar a valorização das coisas simples e se sentir tocado com a emotiva “Você, Pt. 2”.
Disponível no SoundCloud, Spotify e OneRPM.
- Eu não consigo não ser eu – Thestrow
Integrante dos grupos Mentkpta, Inthefinityvoz e 3º Imundo, Thestrow ainda tem espaço e criatividade para se dedicar ao seu trabalho solo. E mais do que isso, consegue demonstrar diferentes faces em seus variados projetos.
Em seu segundo CD, Eu não consigo não ser eu, o artista demonstra o cotidiano do cidadão comum em meio à cidade e o coloca como um escravo da rotina que corre atrás de poder. É isso que gera a desigualdade e faz com que muitos sejam relegados à marginalidade. Por outro lado, contando com um flow versátil e um flerte com outros ritmos, como o samba, o seu conteúdo lírico mostra também que, embora tenhamos que conviver com a vaidade e a ganância, nós somos todos iguais e é possível alcançar um autoentendimento que proporcione a liberdade. Para chegar a esse ponto ele já encontrou o seu caminho: rimar.
Disponível no YouTube.
- Rejuvenescer da Palavra – Troin
O mais novo do cenário presente na lista é o MC Troin, integrante da dupla PrecoBranto, que em sua estreia traz reflexões pertinentes sobre o convívio humano e procura fazer com que a palavra tenha realmente um poder de conscientização.
Para conferir essa importância suas letras se mesclam aos beats de Guilherme Ludvich e apresentam reflexões sobre a relevância de ouvir e ser ouvido, bem como a valorização de si sem desmerecer os demais. Dessa forma, o trabalho da jovem promessa do rap curitibano promove a busca pela felicidade, não de maneira individual, mas sim explorando a ideia de que o que for bom para um deve ser bom para todos.
Disponível no YouTube e SoundCloud.