Já é Páscoa de novo e bom se a única discussão relevante fosse: por que o ovo de chocolate é tão mais caro que uma barra? Fato é que, se você der uma breve procurada nas suas redes sociais, vai perceber um comportamento alimentar bem disfuncional, que é o da demonização de um alimento – nesse caso, o quase unânime chocolate. Memes do tipo “chocolate diminui a sua calça jeans” estão por todo o canto. Lamentável. Distorcem todo o sentido da data, que deveria ser de celebração, e não “dia de fugir do chocolate”.
No terceiro episódio da série Cooked (disponível no Netflix), baseada no livro homônimo de Michael Pollan, dá para se ter uma ideia do quão complexa – e mágica – é a produção do chocolate. Desde o plantio e a colheita do cacau, passando por todo o processo de fermentação, há uma longa jornada até que o fruto se transforme no chocolate que comemos.
Claro, há vários tipos de chocolate e, cada vez mais, vemos percentuais de cacau maior nas barras, o que é excelente. O Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), por exemplo, já divulgou pesquisas e materiais alertando para a pouca quantidade de cacau em barras de chocolate ao leite – algumas não deveriam nem se chamar chocolate, mas, sim, “doce sabor chocolate”, pela baixa quantidade de cacau e altíssima de açúcar. Assim como o chocolate branco, que seria um “falso chocolate” (por ser produzido somente com manteiga de cacau).
Desde o plantio e a colheita do cacau, passando por todo o processo de fermentação, há uma longa jornada até que o fruto se transforme no chocolate que comemos.
Porém, a linha da nutrição comportamental e do chamado “comer intuitivo” prega que a relação com o alimento é muito mais importante. Ou seja: respeitar as preferências e o paladar e comer sem culpa (que, não confunda, não é comer com gula). Então, não existe necessidade de ficar assim tão ansioso com a Páscoa e buscar um ovo zero açúcar/zero glúten/zero lactose/70% cacau se essa não for sua preferência (vi um empório de Curitiba anunciando um produto assim, e as pessoas estavam malucas nos comentários da página no Facebook ). Deixando claro que a disseminação desses produtos no mercado é ótima, sobretudo para pessoas com alergias e intolerâncias alimentares que, há poucos anos, contavam com uma gama muito restrita de opções.
Comer um alimento, nesse caso, o chocolate, envolve uma série de fatores: origem (já pensou em buscar uma marca que trabalhe com o cacau brasileiro, por exemplo?), quem está vendendo (um consumo mais consciente, que valorize o pequeno empreendedor), e a consciência sobre a produção que, infelizmente, ainda envolve escravidão e trabalho infantil. Sobre esse tema, recomendo O Lado Negro do Chocolate, documentário fruto da investigação do jornalista dinamarquês Miki Mistrati.
Uma Páscoa consciente e sem terrorismo nutricional para todo mundo!