Decepções pessoais e profissionais levaram Joshua Fields Millbum e Ryan Nicodemus a buscar um estilo de vida chamado “minimalista”. Esse é um termo que já vem sendo propagado pela moda, por exemplo, mas que não tinha ultrapassado as outras esferas. Os rapazes passaram a dedicar suas vidas para o assunto, o que os levou a escrever livros e criar um site para disseminar a ideia, retratada no documentário Minimalism: A Documentary About Important Things, disponível no Netflix.
Ter menos, segundo os argumentos deles, dos especialistas e de todos os entrevistados do documentário permite que se viva de forma mais tranquila, além de sustentável: viver em espaços menores é uma atitude que seria prudente em um mundo com cada vez menos espaço. Nossas coisas (objetos, roupas), cedo ou tarde acabam virando lixo e nos tomam mais tempo e energia.
E o que o filme tem a ver com alimentação?
Michael Pollan, em uma de suas obras, Em Defesa da Comida — um Manifesto, traz um mandamento que pode parecer um luxo, mas que faz bastante sentido e tem a ver com aplicarmos essa ideia minimalista na alimentação: “pague mais, coma menos”. Pagar mais por um produto de qualidade, seja ele alimentício ou não, leva a um aproveitamento integral, nos ajuda a comprar menos.
O documentário e o vídeo da Francine fizeram com que eu pensasse melhor na minha geladeira nessa última semana, e percebi que até comida de verdade em excesso nos traz problemas.
Depois de ver o filme e pesquisar sobre o assunto, cheguei a um vídeo (veja aqui) do canal Do Campo à Mesa, da jornalista Francine Lima, refletindo sobre esse consumismo na alimentação. Atentem para quando ela fala sobre o que tem na despensa e na geladeira: comida de verdade, necessária para pouco tempo.
O documentário e o vídeo da Francine fizeram com que eu pensasse melhor na minha geladeira nessa última semana, e percebi que até comida de verdade em excesso nos traz problemas: às vezes nos empolgamos demais na feira e não conseguimos dar conta de tudo o que compramos, o que ocasiona um certo estresse para usar tudo para não jogar fora e estragar. Também notei uma certa compulsão por geleias caseiras: para que tanta variedade? Resultado: dois vidros no lixo e outros dois na geladeira (em andamento).
Essa mania de “estoque” que muita gente tem (e que eu tenho tentado diminuir) talvez ainda seja reflexo da hiperinflação dos anos 90: na minha infância, lembro dos meus pais, ensandecidos, saindo para fazer compras quando o preço caía. E aí, dá-lhe despensa cheia! Querendo ou não, acabamos associando essa quantidade, fartura, com boa alimentação. E, por consequência, acabamos comprando mais produtos ultraprocessados, que são os que sobrevivem mais tempo.
Com Minimalism e a reflexão da Francine na cabeça, fiz uma experiência e comprei menos na feira no último sábado. Essa semana foi bem mais tranquila e comi em casa em todas as refeições, “me virando” com o que tinha na gaveta de vegetais e na fruteira. “Mas e a variedade?”. Sim, variar a alimentação é necessário, mas podemos fazer isso de uma maneira mais inteligente como, por exemplo, comprando ao menos uma coisa diferente na feira por semana.
Frequentar feiras livres, sobretudo orgânicas, também pode ser uma atitude minimalista porque a gente aprende a comer o que tem, o que a terra está nos oferecendo naquela época do ano. Não é safra de salsinha? Paciência, vamos usar outra coisa. Não tem tomate esse mês? Pois é, melhor pensar em outra opção. É um respeito com o ciclo da natureza, e inteligente para o corpo, que necessita mais dos nutrientes disponíveis, justamente, nos alimentos da época.
Sermos, ou ao menos tentarmos ser, minimalistas também na alimentação é prudente em um mundo que desperdiça comida demais: a revista científica Agricultural Systems publicou um estudo recente que revela que 20% dos alimentos disponibilizados aos consumidores são perdidos. De acordo com a pesquisa (da Universidade de Edimburgo, na Escócia), a população mundial consome espantosos 10% mais alimentos do que precisa.
A missão é tentar ser mais minimalista na alimentação. Quem tentar também, me conta?