E m seu livro The Horror Show, o pesquisador David J. Skal defende que 1931 é um ano que serve como ponto de ebulição na história do cinema de horror americano. O gênero até então tinha dado passos tímidos na recém-formada Hollywood, com poucos títulos de destaque, como é o caso de O Fantasma da Ópera (1925) e Vampiros da Meia-Noite (1927).
Se você queria ver um filme de horror na década de 1920, talvez fosse mais proveitoso olhar para o que era produzido na Europa. O Golem (1920), Nosferatu (1922) e Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos (1922) davam uma amostra da inventividade presente nas narrativas de medo do período. Esses filmes impressionaram, inclusive, artistas surrealistas, que tinham interesse nas deformidades exibidas na tela para aterrorizar o público.
O Gabinete do Dr. Caligari (1919), de Robert Wiene, em particular, teve um impacto muito forte no imaginário americano, segundo Skal. Além de levantar uma onda de protestos por ser uma produção de origem alemã com uma carreira de sucesso nos Estados Unidos, o filme também serviu para abrir os olhos do potencial financeiro daquele tipo de produção.
Com forte conotação sexual e bastante escandaloso para a época, O Médico e o Monstro (1931) selou o horror como uma tendência irreversível da indústria.
De olho nesse mercado, o jovem Carl Laemmle Jr. assume a cadeira do pai na chefia da Universal Studios em 1928 com objetivo de investir pesado em fitas mais sombrias. Não por acaso, o diretor Tod Browning e o ator Lon Channey viraram dois dos nomes mais importantes ligados ao estúdio, devidamente valorizados pelo recém-empossado executivo.
Laemmle Jr. recorre à dupla para levar para as telas a bem-sucedida adaptação teatral de Drácula, de Bram Stoker, em meados de 1930. Channey estava se preparando para encarar o conde, mas morreu antes de assumir o papel. Enquanto diretor, Browning acabou forçado a contratar o ator Bela Lugosi, um húngaro que mal falava inglês, mas havia se destacado nos palcos interpretando o famoso vampiro.
Drácula (1931) tem problemas de montagem, que surgem da tensão entre o que queria Laemmle Jr. e o que Browning entregou, mas fez barulho logo que estreou nos cinemas. A expectativa do público levou os executivos da Universal a investirem imediatamente na adaptação de Frankenstein (1931), livro de Mary Shelley que também havia sido adaptado com sucesso para o teatro alguns meses antes.
Lugosi recusou o papel do monstro e quem assumiu o antagonista foi o britânico Boris Karloff. Os dois atores se tornariam praticamente um sinônimo de filmes de horror durante as décadas subsequentes. No estúdio rival, executivos da Paramount decidem aproveitar o repentino sucesso de adaptações literárias britânicas de horror para rodar uma nova versão de O Médico e o Monstro, de Robert Louis Stevenson. Dirigida por Rouben Mamoulian, a produção tinha Fredric March como o atormentado cientista que consegue dividir sua própria personalidade.
Com forte conotação sexual e bastante escandaloso para a época, O Médico e o Monstro (1931) selou o horror como uma tendência irreversível da indústria. Nos anos subsequentes, estúdios americanos iriam tornar o gênero em uma lucrativa fonte de renda, explorando com imagens nossos mais profundos pesadelos. Tudo isso porque, lá atrás, no longinquo ano de 1931, Drácula, a criatura de Frankenstein e a dualidade de Dr. Jekyll e Sr. Hyde tornaram isso possível.