American Horror Story é um dos programas televisivos que melhor explora as barreiras entre nosso cotidiano e a ficção de horror. Comentei aqui há algum tempo que a série, embora costume ser bastante fantasiosa, geralmente [highlight color=”yellow”]opera como um recorte de referências de casos reais e situações do imaginário popular[/highlight]. A sétima temporada, atualmente em exibição, parece atenuar essa característica ao discutir o que significam nossos medos da Era Trump.
O ponto de partida é a eleição que consagrou Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos. De casa, os personagens assistem à posse, atônitos ou esperançosos de que agora o país sucumbirá a um período mais sombrio. Ally Mayfair-Richards (Sarah Paulson) passa por um período de choque após a vitória do republicano. Além de ter dificuldades para vislumbrar o futuro, também enfrenta um renascimento de suas fobias.
O pavor de um pessimismo pós-eleitoral bebe na fonte dos anseios, reais, repercutidos pela mídia com a vitória do republicano em 2016.
Kai Anderson (Evan Peters), por outro lado, identifica a chegada de Trump à Casa Branca como uma chance de revolucionar o mundo. Por isso, dá início a um violento culto para modificar a realidade da cidade em que vive. O plano envolve um grupo de pessoas vestidas de palhaço, algo que ainda não foi bem detalhado pelo programa.
Os dois personagens agem como protagonistas da atração, dividindo pouco os holofotes com o restante do elenco. Nesse ponto, a narrativa é bem distinta dos anos anteriores, geralmente aberta para múltiplos atores. Outra diferença também é a ausência de um espaço específico de ambientação da narrativa, como uma casa assombrada, um hotel ou um circo de horrores. [highlight color=”yellow”]O que interessa aqui é momento histórico, demarcado por nosso medo em relação ao futuro[/highlight].
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Em vários sentidos, esse talvez seja o enredo de American Horror Story com a temática mais moderna nestes sete anos em que o seriado esteve no ar. As contribuições da sexta temporada, que explorava a linguagem dos found footages e dos realities shows, foi muito mais de forma do que de conteúdo – ainda que tivesse bons insights para discutir a ideia de verdade em uma confusa história metalinguística sobre um programa de TV filmado em uma casa mal assombrada.
Os palhaços que povoam a sétima temporada parecem atuais por simularem os vídeos de aparições de pessoas fantasiadas que pipocaram pelas redes sociais em meados do ano passado. O pavor de um pessimismo pós-eleitoral também bebe na fonte dos anseios, reais, repercutidos pela mídia com a vitória do republicano em 2016.
Este ano de American Horror Story parece ecoar também na nossa própria dificuldade em nos relacionarmos com a diferença. [highlight color=”yellow”]Sem conseguir entender o que leva um sujeito como Donald Trump à presidência, ficamos impossibilitados de processar a informação e nos isolamos em nossas bolhas temendo o que há do outro lado do muro[/highlight]. Enquanto isso, o mundo é bombardeado com o medo, que serve de moeda de troca para vantagens políticas e comerciais.