Nosso cotidiano é marcado por tentativas de manter a segurança da vida. Frequentemente, somos induzidos – pelo excesso de atividades e estímulos do mundo contemporâneo – a esquecer o inevitável. Ver Jason Voorhees esfaquear um casal de adolescentes parece nos lembrar da nossa frágil condição: se estamos vivos, vamos morrer.
A relação entre os filmes de horror e o destino final da humanidade é bastante discutido na literatura especializada. Na introdução do livro Cinema(s) de Horror, da editora Estronho, o amigo Carlos Primati afirma que o interesse do público pelo gênero se justifica porque há, em todos nós, uma busca incessante pela experiência derradeira.
“A presença constante da morte é o que dá sentido à própria existência da ficção de horror, porém, sua utilidade não é somente como um elemento de enredo ou um artifício de manipulação emocional, mas principalmente como uma espécie de catalisador que processa todas as regras gramáticas da narrativa. Essencialmente, o filme de horror é um infindável tratado sobre a morte em forma de entretenimento – geralmente com algumas cenas de intenso impacto para liberar adrenalina na plateia e funcionar como uma válvula de escape”, escreve Primati.
O fascínio pela morte como forma de entretenimento – e bola de cristal do futuro – não é exatamente exclusiva do cinema. Espetáculos de gladiadores na Roma Antiga, execução de prisioneiros na guilhotina e museus que exibem esqueletos e múmias são apenas alguns dos exemplos de como a humanidade, de uma maneira ou de outra, aproxima o lazer do ato de morrer.
O que diferencia o cinema de horror é o sentimento de ilusão. Há um relativo consenso de que o que se vê na tela não é real e, por isso, nos libera da culpa de parecermos excessivamente insólitos.
Tania Riveira, no livro Cinema, Imagem e Psicanálise, diz que uma das atrações populares de maior sucesso de Paris, no século XIX, eram exibições de corpos nas vitrines dos necrotérios da capital francesa. Em 1886, revela a autora, o corpo de uma menina de quatro anos atraiu cerca de 150 mil pessoas. Comportamento semelhante ocorre quando estranhos resolvem invadir a capela ao lado no cemitério para ter um vislumbre do que tem no caixão alheio.
O consumo de jornais, revistas e programas televisivos que exploram assassinatos vão pelo mesmo caminho. São frutos de uma curiosidade mórbida. O que diferencia o cinema de horror é o sentimento de ilusão. Há um relativo consenso de que o que se vê na tela não é real e, por isso, nos libera da culpa de parecermos excessivamente insólitos.
Os capítulos da série Premonição parecem ser feitos exclusivamente para colocar o espectador diante da experiência da morte. O acaso persegue jovens que escaparam de forma indevida de acidentes fatais. Na tela, pessoas são enforcadas, esfoladas e incendiadas com a calma de um sádico. Não há nenhum fio condutor para a trama, além da inevitabilidade do fim. Mesmo assim, nos mantemos vidrados no momento em que os personagens deixam de viver. Nada mais natural. Ali é quando temos um vislumbre do que nos espera.