James Cameron pode ser considerado um dos primeiros diretores de Hollywood a subverter as convenções do horror e transformá-las em narrativas de ação militarizadas com obras como O Exterminador do Futuro (1984) e Aliens – O Resgate (1986). É John McTiernan, no entanto, quem melhor catalisa os dois gêneros com O Predador (1987), produção que completa 30 anos nas próximas semanas.
Inicialmente ignorado pelos críticos, o filme se tornou um grande clássico da década de 1980. Foi responsável por criar uma das propriedades intelectuais mais importantes do estúdio FOX, o alienígena com máscara de metal e pele reptiliana. A criatura estampou histórias de quadrinhos, jogos de vídeo-games e brinquedos para crianças, além de outros produtos licenciados, por anos. Virou patrimônio cultural. Foi visto em duas sequências oficiais, uma de 1990 e outra de 2010, além dos derivados da série Alien vs. Predador, de 2004 e 2007.
O Predador é bastante marcado por signos da chamada Era Reagan, associada ao período em que o presidente Ronald Reagan esteve na Casa Branca, entre 1981 e 1989. O incentivo a políticas armamentistas, que valorizavam a cultura masculina e o nacionalismo, são vistas como características do período pelo pesquisador Douglas Kellner, que investiga como isso foi parar em produções como Top Gun – Ases Indomáveis (1986) ou Rambo II – A Missão (1985).
Não parece ser por acaso que o roteiro, ao ser proposto para os estúdios, foi vendido como uma mistura de Alien com Rambo.
Como nesses filmes, aqui, o corpo masculino também é um objeto de adoração pela câmera, que foca constantemente nos músculos dos personagens. O aperto de mão entre Arnold Schwarzenegger (Dutch) e Carl Weathers (Dillon) fecha diretamente nos bíceps dos personagens. Há ideias de masculinidades espalhados em diálogos, como as piadas machistas contadas por Shane Black (Hawkins).
O aspecto militar, praticamente um sinônimo do gênero ação no período, é reforçado pela própria trama. Um time de elite é recrutado pelo Exército para resgatar reféns presos por um grupo de rebeldes dentro de uma floresta em um país da América Central. Quando partem para a missão, passam a ser perseguidos pelo predador do título, uma criatura que os caça por esporte, aparentemente.
Pouco é explicado ao espectador sobre a origem do monstrengo. Em um certo momento, uma prisioneira do grupo, retirada de um acampamento onde supostamente deveriam estar os prisioneiros, diz que a criatura aparecia em histórias antigas da região em que foi criada. A ausência de clareza da origem do antagonista não faz falta alguma à produção, que envelheceu muito bem. Os efeitos visuais criados pelo mestre Stan Winston, por exemplo, continuam eficientes, apesar do tempo.
McTiernan chegou ao projeto por indicação de Schwarzenegger, que havia visto o primeiro filme do cineasta, Delírios Mortais (1986), e ficado impressionado. Com pouquíssimo dinheiro, o diretor criou uma obra repleta de cenas marcantes e elementos atmosféricos, filmando Los Angeles como uma cidade perigosa e povoada por espíritos que espreitam os cantos das ruas vestidos de punks.
Na floresta de O Predador, a lógica se manteve. Por vezes, McTiernan deixa a câmera apontada para um lugar no qual não temos certeza, mesmo enquanto espectadores, de que o caçador invisível está presente. Uma das cenas mais memoráveis do filme é a que um grupo de militares dispara rajadas incessantes de metralhadora contra árvores e o nada.
É nessa opressão da ameaça constante, e também no grotesco dos corpos dilacerados e no visual horrendo do monstro sem máscara, que o horror vai se consolidando dentro da narrativa de ação. Não parece ser por acaso que o roteiro, ao ser proposto para os estúdios, foi vendido como uma mistura de Alien com Rambo.
Um ano depois da estreia de O Predador, McTiernan entraria para a história por dirigir o que muitos consideram o filme de ação perfeito: Duro de Matar (1988). O sucesso do diretor o afastou da série, que amargou vários títulos de qualidade inferior. Um dos atores do original, Shane Black, está trabalhando nas filmagens de um novo capítulo para a franquia, programado para chegar aos cinemas em agosto de 2018.