Em 2011, a jornalista Eliane Brum escreveu uma crônica chamada “Meu Filho Você Não Merece Nada”, na qual discutia o problema da auto‐estima da chamada Geração Y, também conhecida como millennials. Formada por jovens que nasceram entre 1980 e meados de 1990, esse grupo de pessoas, do qual faço parte, chegou à segunda década do século XXI despreparada para os desafios do mercado de trabalho, geralmente por terem crescido com a percepção de que são muito especiais para o mundo.
Em seu texto, Brum comenta como indivíduos dessa geração têm dificuldades para enfrentar as frustrações profissionais e dão tudo como garantido, embora a vida nem sempre cumpra essas expectativas. São sujeitos que se sentem constantemente injustiçados pela sociedade. Vemos (ou sentimos) isso todos os dias, quando notamos o quão difícil é cumprir as nossas expectativas (e as dos outros).
Entre o nonsense e o grotesco, Dave Made a Maze sintetiza muitas das preocupações de quem pertence à Geração Y.
No cinema, o tema foi recentemente abordado pela comédia romântica Arrume Um Emprego (2016), dirigido por Dylan Kidd. Na trama, Miles Teller e Anna Kendrick são um casal de recém‐formados que não conseguem manter um emprego, apesar de terem crescido achando que a vida adulta seria fácil. Embora tenha suas falhas, o longa‐metragem parece refletir muito do que discute a jornalista brasileira.
Um olhar um pouco menos ortodoxo para o tema é a da comédia de horror indie Dave Made a Maze (2017), do estreante Bill Watterson. O título chegou recentemente aos serviços de streaming dos Estados Unidos e mostra algumas características mais subjetivas dessa geração. A história é sobre um sujeito que, ao completar 30 anos, percebe que não conquistou absolutamente nada na vida e decide construir um labirinto, como se fosse uma criança.
Dave, o protagonista da produção, mora com a namorada e está desempregado. Gasta o tempo livre em atividades artísticas e culturais. Em um ato de desespero para fazer algo de que sinta orgulho, ele constrói uma edificação repleta de corredores feitos de papelão. Quando se perde dentro da própria fantasia, bastante literal na tela, sua amada monta uma equipe de resgate para tirá‐lo de lá.
Parte da graça da obra de Watterson está na maneira como o labirinto, ridiculamente composto por origamis e papel recortado, vira um espaço ameaçador e repleto de monstros. O mais perigoso deles é um patético minotauro, cuja cabeça é feita de papel machê.
Entre o nonsense e o grotesco, Dave Made a Maze sintetiza muitas das preocupações de quem pertence à Geração Y. Dave, o herói, só quer ter um projeto efetivamente finalizado, depois de uma vida de expectativas frustradas pela realidade do cotidiano. O labirinto, que nunca é explicado na trama, parece ser apenas uma maneira de expressar seus demônios infantis, que não se furtam de ferir e afastar suas amizades.
A saída para esses dilemas é o amadurecimento, como mostra o filme. Nas palavras de Brum, “crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.”