Se essa sua camiseta de algodão ou o meu ordinário pijama de cetim sintético pudessem falar, provavelmente contariam uma história nada edificante sobre a sua produção.
Nós queremos pagar pouco pelas roupas que vestimos sem nos importarmos com a sua procedência. Pois é, infelizmente não existe jantar grátis no mundo da moda. A terapia do consumo tem suas consequências. O sonho acabou.
Há algum tempo, revelações da existência de trabalho escravo e infantil e poluição sistemática do meio ambiente vêm maculando a imagem glamourosa das marcas globais. A indústria da moda é a segunda mais poluente do planeta, só perdendo para a do petróleo.
Milhares de trabalhadores, sobretudo mulheres, na Ásia e em países em desenvolvimento trabalham em condições sub-humanas para coser o nosso look básico de cada dia.
Lamentavelmente, a engrenagem por trás da moda não é nada sustentável. E as principais vilãs são as nossas marcas preferidas, principalmente as grandes redes de fast fashion, que conseguem unir o desejo de moda aos preços acessíveis.
Milhares de trabalhadores, sobretudo mulheres, na Ásia e em países em desenvolvimento trabalham em condições sub-humanas para coser o nosso look básico de cada dia.
Em 2014, surgiu no Reino Unido um movimento de inconformados com os perturbadores alicerces dessa indústria.
O Fashion Revolution convida as pessoas a refletirem sobre quem faz as roupas que vestimos e propõe uma mudança de comportamento rumo a moda mais ética, humana e responsável com os recursos naturais.
A ONG teve origem após o desmoronamento em abril de 2013 do Rana Plaza, em Bangladesh, um edifício que abrigava centenas de trabalhadores têxteis em condições precárias e exploratória. Mais de 1.100 morreram e outros 2.500 ficaram feridos.
Aos poucos o Fashion Revolution se espalha pelo mundo sensibilizando as pessoas por meio das redes sociais. No Brasil, muitas cidades, incluindo Curitiba, já comemoram no dia 24 de abril o Fashion Revolution Day, uma menção à data que ninguém quer que se repita.
Em princípio pode parecer ingênuo, mas é mais do que isso, é uma tarefa árdua. Saindo da teoria, pense em como pode ser difícil tomar uma decisão mais política a respeito do tema.
Se a partir de hoje você se comprometesse a usar apenas peças feitas eticamente, onde pesquisaria a respeito? Onde compraria? Quão mais caro poderia significar essa mudança de atitude?
O modelo de negócio das fast fashion é dependente de consumidores que compram moda em excesso. A roupa dura apenas algumas lavagens, de modo que somos levados a comprar mais e mais.
Sem dúvida, trocar a quantidade por poucas peças de qualidade é uma mudança de paradigma. Mas, para fazer sentido, a moda precisa de uma revolução de princípios e somos nós, consumidores, a ponta final da cadeia, é que podemos fazer isso.
As informações estão na mesa e a “revolução” começa em cada um de nós. Pense, escreva, comente, engaje.
Nota: um bom começo para entender a atual situação da indústria da moda é assistir ao documentário The True Cost (2015), dirigido por Andrew Morgan. Está disponível no Netflix (leia crítica aqui).
O aplicativo Moda Livre avalia varejistas de moda do Brasil e as cataloga em categorias que dependem do grau de comprometimento com a cadeia produtiva.
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