Perdas inesperadas exigem atenção especial às crianças e adolescentes. Quando a morte é de alguém muito jovem e popular, como o ator norte-americano Cameron Boyce, 20 anos, o impacto pode ser ainda maior.
Astro do Disney Channel, o artista era um dos protagonistas do telefilme musical Descendentes, franquia de sucesso da emissora. O terceiro título da série, com estreia prevista para 9 de agosto, conta novamente com a participação de Cameron, que interpreta Carlos, filho da vilã Cruela de Vil, personagem clássica de Os 101 Dálmatas.
O jovem artista, que iniciou a carreira aos 9 anos, participou de séries como Jessie, também do Disney Channel, e de produções para o cinema como Gente Grande, na qual interpretava o filho de Adam Sandler. O ator utilizou sua conta no Instagram para lamentar a partida precoce do rapaz, com quem dividiu o set por duas vezes (o longa, de 2010, teve uma sequência em 2013). “Muito jovem. Muito doce. Muito engraçado. Apenas o garoto mais legal, mais talentoso e mais decente por aí. Amava esse menino. Ele se importava tanto com sua família. Ele se importava tanto com o mundo. Obrigado, Cameron. Havia tanto por vir ainda. Nossos corações estão partidos. Pensando na sua família maravilhosa e enviando nossas condolências”, comentou.
A morte de Cameron Boyce (o artista morreu no dia 6 de julho, enquanto dormia, em consequência de uma convulsão aliada a uma doença preexistente), que também era dançarino e tinha grande engajamento com causas sociais, gerou repercussão imediata nas redes sociais.
Conhecido por seus trabalhos com Michael Jackson e pela criação da franquia High School Musical, Kenny Ortega, que dirigiu os três filmes da franquia Descendentes, também falou sobre o ator. “Meu amor, luz e preces vão para o Cameron e sua família. Cameron trouxe amor, risadas e compaixão com ele todos os dias que eu estive em sua presença. Seu talento era imensurável. Sua bondade e generosidade não paravam. Foi uma honra indescritível e um prazer conhecê-lo e trabalhar com ele. Eu vou te ver de novo nas coisas amorosas e bonitas, meu amigo. Vou procurar nas estrelas pela sua luz. Descanse em paz, Cam. Você sempre vai ser meu Menino Perdido”, escreveu o diretor.
A morte de Cameron Boyce (o artista morreu no dia 6 de julho, enquanto dormia, em consequência de uma convulsão aliada a uma doença preexistente), que também era dançarino e tinha grande engajamento com causas sociais, gerou repercussão imediata nas redes sociais. Em tempos de extremo isolamento, notícias como essa podem deflagrar situações complicadas.
Consequências
Engatinhamos ainda na avaliação das consequências reais do mundo virtual na realidade dos nossos meninos e meninas. Por outro lado, um dado alarmante vale como um convite à reflexão. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria, o índice de casos de suicídio entre crianças e adolescentes que vivem nas grandes cidades brasileiras aumentou 24% entre 2006 e 2015. Detalhe: é verificada uma queda mundial em situações dessa natureza, fato que coloca nosso país em uma posição complicada.
Os pesquisadores da Unifesp conduziram os trabalhos com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Coeficiente de Gini (que mede desigualdade). Nas suas conclusões, eles apontam a popularização da internet, as mudanças sociais no país e a falta de políticas públicas de combate ao suicídio como as principais razões para esse aumento.
A pesquisa da Unifesp me leva a uma questão perturbadora: nunca fomos tão conectados e isolados ao mesmo tempo. Tudo se resolve em um áudio ou mensagem pelo WhatsApp. Em tempos de redes sociais, compartilhamos ilusões, mundos perfeitos e curtimos a solidão, a indiferença e o distanciamento.
Pelo impacto provocado, a notícia da morte de Cameron Boyce pede muito diálogo com seus jovens fãs. A tristeza e a ausência de compreensão podem levar a atitudes mais radicais, que potencializam problemas e angústias já existentes. Só não vale fechar os olhos e tratar a questão como algo que não merece atenção especial. Os grandes problemas se escondem nas mais simples situações cotidianas…
Dica: recentemente, publiquei a coluna “A difícil tarefa de falar sobre tragédias com crianças e adolescentes”. Vale a leitura e reflexão.