Imagine um roteiro cinematográfico com os seguintes elementos: a trama tem como cenário uma simpática cidade gaúcha com pouco mais de 45 mil habitantes. O protagonista da história, por sua vez, é uma criança curiosa e apaixonada pelos bastidores do cinema, que com o passar dos anos combina a paixão pela arte com o espírito empreendedor para criar um projeto que permite a divulgação do cinema brasileiro, além de reunir novos realizadores.
Com ares de uma superprodução, a trajetória de Maurício Helbing, 20 anos, poderia mesmo ganhar as telas. À frente do Cinema Brasileiro de Compartilhamento (Cinebrac), o jovem fez de Estância Velha, cidade distante cerca de 50 quilômetros de Porto Alegre, locação para a realização de grandes projetos na área do audiovisual. “O Cinebrac é um ambiente para divulgar o audiovisual nacional. Essa ideia surgiu quando decidi que queria trabalhar com cinema, mas olhava um cenário desconhecido e pouco apoiado. Felizmente, tive a sorte de conhecer um dos meus sócios (Jônatas Vorpagel) no fim do ensino médio e ali decidimos que iríamos criar uma plataforma para reunir as pessoas que trabalham na área e juntos batalhar por um mercado maior e melhor. Essa ideia continua intacta e cada vez mais forte atualmente”, comenta.
‘O Cinebrac é um ambiente para divulgar o audiovisual nacional. Essa ideia surgiu quando decidi que queria trabalhar com cinema, mas olhava um cenário desconhecido e pouco apoiado.’
Um dos próximos projetos do Cinebrac é um aplicativo on demand, ao estilo Netflix, que permite ao usuário assistir, gratuitamente, a séries, longas e curtas brasileiros. O lançamento deve ocorrer até agosto, com direito a um curta-metragem especialmente produzido para a estreia da plataforma – Eu. “Até o momento, temos vinte produções já cadastradas, mas estamos criando meios para expandir rapidamente”, fala.
O jovem realizador já alçou voos maiores. Em 2016, o curta-metragem O Castelo de Cartas, escrito e dirigido por Maurício, foi eleito o melhor filme do mês na categoria experimental do 12 Months Film Festival, na Romênia. A produção também foi pré-selecionada para outros quatro festivais – na Itália, Espanha, Índia e Japão.
A paixão pelo audiovisual vem de inspirações que o acompanham desde a infância. “Paul W. S. Anderson me marcou com a saga Resident Evil, seja na história ou pelos zumbis que me fizeram gostar ainda mais de ficção e evoluir para outros gêneros. Michael Bay com Tranformers e Steven Spielberg em especial com Super 8 também precisam ser citados. Foram produções que me fizeram amar o mundo da ficção e admirar cada vez mais o cinema”, conta.
Maurício, que em breve inicia a graduação em Cinema, não é só roteirista, diretor, produtor e editor. Ele também se aventura diante das câmeras no curta Eu e tem planos de seguir carreira como ator. “Sou um aspirante a ator, tenho muito que aprender. Ainda mais quando for interpretar um personagem que eu mesmo criei. Escrever, dirigir, atuar, editar. Tudo mesmo. Dizem que preciso focar em apenas uma coisa, mas minha mente é muita inquieta, não consigo fazer uma coisa só”, completa.
Iniciativas
O realizador também se dedica a outras iniciativas, como a criação e expansão de cursos gratuitos de cinema com o apoio de algumas prefeituras do Rio Grande do Sul. “A maioria ainda está em pauta, mas estamos nos vinculando a um evento que vai para sua terceira edição na cidade de São Leopoldo, disponibilizando aulas, palestras e um festival com obras produzidas por pessoas que querem conhecer e trabalhar no setor, mas não possuem apoio algum para começar. É tão legal fazer parte disso. Os conteúdos criados estarão depois disponíveis no aplicativo”, observa.
Para Maurício, as novas gerações podem ser sensibilizadas a conhecer mais sobre o nosso cinema e valorizá-lo. “O principal fator que ajuda nesse processo tem a ver com o amor que os cineastas, em especial os mais novos, apresentam aos espectadores jovens. A partir daí, mostram que o cinema brasileiro pode ser uma potência, pode viciar, encantar e até quebrar aquele tabu que é feito apenas de produções falando mal do próprio país ou que só têm sexo e prostituição. O cinema está sendo reinventado, os nossos recursos vêm melhorando drasticamente. Acredito que as conquistas internacionais estão ajudando muito a fazer os jovens valorizarem mais projetos do seu próprio país”, finaliza.