O ator, diretor e dramaturgo Tiago Luz se viu diante de dois desafios interessantes: resgatar elementos do folclore brasileiro e se apropriar dessas histórias para criar um espetáculo de teatro capaz de dialogar com o público infantojuvenil. Em linhas gerais, assim nasceu Lobisomem, peça que cumpre temporada de 12 a 27 de agosto, todos os sábados e domingos, no Teatro José Maria Santos.
A montagem, fruto da bem-sucedida 3ª edição do Festival de Teatro Infantil Brinque – Folclore do Brasil, mostra realizada pela Montenegro Produções, chama a atenção pelas referências, linguagem moderna e alta sintonia entre texto, músicas e coreografias. “As lendas folclóricas estão defasadas, de certa forma não conversando mais com nosso tempo. Era preciso recontextualizar, dar a elas novo sentido, algo mais contemporâneo. No caso do lobisomem, por exemplo, é ainda mais difícil por ser um monstro que não está tão presente no imaginário infantil”, comenta Tiago Luz em entrevista exclusiva à coluna “Vale um Like”.
O diretor e dramaturgo optou por trazer à tona os conflitos de um menino que, por sentir muita raiva, acaba se transformando em lobisomem. “Por não ter mais a transmissão oral, essas lendas acabaram se engessando. Meu trabalho consistiu em mexer com essas histórias sem ter medo, procurando não descaracterizá-las. O espetáculo também busca trazer essa questão que conduz a história para os pais, como eles se colocam hoje na vida dos filhos, a forma como se relacionam com eles. Não vejo problema algum nos iPads, tablets ou celulares, mas parece cada vez mais que os pais são abduzidos pelas redes sociais, pela falta de tempo e pelo trabalho deixando assim as crianças de lado”, avalia.
Reconhecido com um dos grandes talentos da cena teatral curitibana, Tiago Luz encontrou na paternidade outro elemento importante para a concepção do espetáculo. “O Gael tá com 2 anos e ele ia comigo para os ensaios. Sempre pensava em um espetáculo que o pai gostaria de assistir com o filho e que não passasse em branco para ele. A paternidade abre um compartimento que eu não fazia ideia que existisse. Muda realmente seu jeito de olhar tudo. Meu filho, nesse sentido, me deu um aporte muito grande para sentir segurança e confiança no que eu estava pensando e fazendo. Ele tem um papel muito importante”, analisa o artista.

Peça
Outro destaque interessante de Lobisomem são as músicas. “Elas são uma parceria com um grande amigo, Eugênio Fim, que trabalhou comigo no monólogo que eu fiz chamado Desnoite, do Adriano Esturilho. Pelo fato de eu ter uma certa musicalidade, acabei escrevendo, dirigindo e compondo essas canções, que ganharam arranjos do Eugênio. Ele também é pai e foi uma parceria sensacional, repleta de referências musicais”, fala Tiago Luz.
A peça abre com uma quase paródia de “Thriller”, de Michael Jackson. “Ele é uma referência muito forte. Acaba sendo uma grande brincadeira e homenagem também”, fala o diretor. Em perfeita sintonia com as canções, destacam-se as coreografias, que ficaram sob responsabilidade de Cleide Piasecki. “O trabalho dela foi fundamental. A Cleide me dava uma confiança muito grande nesse sentido da preparação corporal e coreografias. Uma pessoa sensacional, muito respeitada e com quem queria trabalhar desde o início da minha carreira”, reitera o diretor.
Tiago, que também foi responsável pelas montagens Cabra Cabriola e Cuca, pretende em breve estrear um projeto voltado ao público adolescente. “É uma faixa etária que carece muito”, analisa.
‘É preciso construir reflexões, conhecimento. Faz-se necessário um senso de responsabilidade muito grande e um cuidado com o que está fazendo, sem subestimar esse público e procurando entendê-las também’.
Para o artista, mais que a formação de plateia, trabalhar com crianças e adolescentes significa também contribuir com a construção de sua identidade e caráter. “É preciso construir reflexões, conhecimento. Faz-se necessário um senso de responsabilidade muito grande e um cuidado com o que está fazendo, sem subestimar esse público e procurando entendê-las também”, observa.
Lobisomem, que tem pesquisa e concepção cênica da Confraria de Teatro Kromossomos Estranhos e produção da Ruído Companhia de Teatro, reúne jovens talentos das artes cênicas – Kauê Persona, Nathan Diego Milléo Gualda, Renet Lyon e Taciane Vieira – e um elenco de apoio bastante afinado formado por Franci Fonseca, Isadora Foreck, Karen Turbay, Loara Gonçalves, Mariana Rodrigues, Mayara Nassar, Melissa Giowanella, Nathalia Garcia, Thais Gabardo e Vitor Hugo do Amaral. “A interação pós-espetáculo é muito bacana. Os pais vêm dar um feedback de várias coisas, assim como as próprias crianças”, diz Tiago Luz. Fica a dica…

SERVIÇO | Lobisomem
Quando: De 12 a 27 de agosto – sábados, às 16h; e domingos, às 11h;
Onde: Teatro José Maria Santos | Rua Treze de Maio, 655 – São Francisco;
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia);
Informações: ingressos à venda pelo site do Disk Ingressos ou pelo telefone (41) 3315-0808.