Há pouco mais de um ano, a polêmica em torno do Jogo da Baleia Azul trouxe à berlinda a questão da depressão e suicídio entre os adolescentes. À época, o assunto foi impulsionado também pelo êxito da série 13 Reasons Why, que tornou-se um fenômeno da Netflix.
Baseada no livro escrito por Jay Asher (no Brasil, batizado como Os 13 Porquês), a atração, que teve sua segunda temporada lançada no dia 18 de maio, despertou amor e ódio na mesma proporção. O fato é que antes de partir com toda truculência para cima de um jogo ou série/livro/filme, é importante observar o que acontece à nossa volta.
13 Reasons Why escancarou um assunto tabu em nossa sociedade. É preciso um olhar sensível sobre o tema, pois nada acontece por acaso. Tudo é fruto de um processo, muitas vezes visível, mas que passa despercebido por conta da rotina, dos inúmeros compromissos e da falta de tempo para as coisas mais simples e importantes da vida – como um singelo abraço.
A velha mania de procurar um vilão em potencial também só agrava o problema. Nunca fomos tão conectados e isolados ao mesmo tempo. Tudo se resolve em um áudio ou mensagem pelo WhatsApp. Em tempos de redes sociais, compartilhamos ilusões, mundos perfeitos e curtimos a solidão, a indiferença e o distanciamento.
’13 Reasons Why’ escancarou um assunto tabu em nossa sociedade. É preciso um olhar sensível sobre o tema, pois nada acontece por acaso. Tudo é fruto de um processo, muitas vezes visível, mas que passa despercebido por conta da rotina, dos inúmeros compromissos e da falta de tempo para as coisas mais simples e importantes da vida – como um singelo abraço.
Está difícil achar um equilíbrio em meio ao boom tecnológico. Os problemas e dificuldades sempre existiram no relacionamento com os jovens, por “n” razões. Costumo dizer que todo mundo esquece que foi adolescente um dia. Arrisco uma teoria: esse comportamento tem a ver com o turbilhão de emoções e sentimentos que tomam conta da vida da gente nessa fase.
Quem supera a adolescência, segue em frente sem querer olhar para trás. É quase como uma amnésia forçada. Aqueles que simplesmente se conformaram, seguem frios, céticos e certos de que fizeram as melhores escolhas, mesmo que inconscientemente distribuam amargura sem dó ou piedade.
Em outras palavras, a insensibilidade não nos permite estender a mão àqueles que precisam passar pelos precipícios presentes ao longo da grande jornada da vida. Vivemos coisas incríveis, o mundo nunca esteve tão acessível, mas por outro lado perdemos referências e a capacidade de colocar em prática pequenos gestos que realmente fazem a diferença.
Tudo pode se tornar grande demais e irreversível em um infeliz compartilhamento nas redes sociais. Não temos alcance da dimensão que as coisas alcançam no mundo virtual. Preferimos fingir que não é problema nosso. Melhor acumular cliques, apontar culpados e dividir ilusões.
https://youtu.be/9ZaS5y2ZMzc
Série
Sobre a nova temporada de 13 Reasons Why, sem qualquer spoiler, é preciso responder uma pergunta básica: sim, mesmo com a morte de Hannah Baker (Katherine Langford), foi possível dar continuidade à história.
Nessa segunda fase da série, cinco meses após o suicídio de Hannah, a proposta é mostrar como os personagens lidaram com a tragédia e de que forma estão tocando suas vidas. A trama se desenvolve a partir da decisão da mãe da garota, Olívia (Kate Walsh), de processar a escola em que a garota estudava.

Nos 13 episódios, saem de foco as fitas gravadas por Hannah e entram em cena os depoimentos de inúmeros personagens durante o processo judicial, que permitem conhecer os diferentes lados do mesmo fato e resolver lacunas presentes na primeira temporada. As imagens de polaroids entregues a Clay Jensen (Dylan Minnette) também têm papel fundamental na narrativa. Quanto à temática, 13 Reasons Why mantém um ritmo pulsante e, além do bullying, traz à tona questões urgentes como o abuso sexual e o uso de arma de fogos.
Independentemente de alguns clichês e soluções dramáticas curiosas, como o aparecimento do fantasma de Hannah, 13 Reasons Why mantém acesa a discussão necessária sobre o assunto nas famílias, na escola e em toda sociedade, além de reforçar a importância da amizade para superar momentos extremamente difíceis. Uma responsabilidade que deve ser assumida por todos nós.