Há quatro décadas, Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho, Narizinho, Emília, o Visconde de Sabugosa e outros tantos personagens fantásticos deixaram as páginas dos livros de Monteiro Lobato para ganhar vida na televisão. De 1977 a 1986, o Sítio do Picapau Amarelo encantou gerações de brasileiros.
Por conta do 40.º aniversário de estreia do programa, uma produção da Rede Globo em parceria com a TVE e o MEC, a coluna “Vale um Like” dedicará, até o fim do ano, espaço para temas referentes à atração, que fez história na tevê brasileira. Para começar, recordo a oportunidade de entrevistar duas grandes atrizes que viveram, em momentos distintos, Dona Benta na telinha: Zilka Salaberry (de 1977 a 1986) e Nicette Bruno (de 2001 a 2004).
Em 2001, às vésperas da estreia da nova versão do Sítio na Globo, o clima era de festa, confraternização, nostalgia e muita expectativa entre elas. Zilka, que faleceu em 2005, esbanjava alegria por conta da volta do clássico da literatura infantil à televisão. “A escolha da Nicette Bruno para fazer a Dona Benta foi maravilhosa. Ela é uma pessoa sensacional, muito simpática e ótima atriz”, avaliou.
Por conta do 40º aniversário de estreia do programa, uma produção da Rede Globo em parceria com a TVE e o MEC, a coluna ‘Vale um Like’ dedicará, até o fim do ano, espaço para temas referentes à atração, que fez história na tevê brasileira.
De fato, Zilka, que completaria 100 anos em 2017, tornou-se a avó de todos os brasileiros. Mesmo com o término do programa, a atriz era sempre recebida com muito amor por onde passava. “É uma coisa maravilhosa, todo mundo me reconhece, me chama de Dona Benta, vovó Benta. Eu tenho um imenso prazer em ser a avó de todos”, falou.
À época, a ligação para a casa de Nicette Bruno teve uma surpresa a mais. Do outro lado da linha, Paulo Goulart, ator e companheiro da atriz, que faleceu em 2014, foi bastante simpático e arriscou: “Imagino que você quer falar sobre o novo Sítio, certo? Vou chamá-la”, disse.
Nicette lembrou que a nova versão do programa não se afastava da essência da obra de Lobato, mas também buscava referências na realidade das crianças do século 21. “É uma alegria muito grande interpretar a Dona Benta. Era da maior importância retomar um clássico”, reiterou.
Para a artista, o Sítio do Picapau Amarelo retornava mais verdadeiro, mas sem perder o sonho infantil e a imaginação. “A Dona Benta não é mais aquela senhora do século passado, que fica fazendo tricô. Ela faz campanhas beneficentes, sabe lidar com o computador, mas sempre lembra os netos da importância da escrita e da leitura”, ponderou.
Para quem cresceu com o programa de 1977, Zilka recordou como foi a convivência com o elenco e equipe técnica em uma década de trabalho. “Funcionava como uma família. Era como se os meninos fossem os meus netos, até porque os meus netos de verdade nasceram durante aquela época. Tomava conta deles, dos estudos. Nós fomos uma família. Em 10 anos no ar, nunca houve atrito. E olha que a gente passava o dia inteiro no sítio, cuidando dos animais, de tudo e só voltava para casa para dormir”, recordou.
Obs. 1: as entrevistas foram publicadas originalmente em uma edição especial da “Gazetinha”, suplemento infantojuvenil da Gazeta do Povo (29 de setembro de 2001). O jornalista Leonardo Mendes Júnior conversou com Zilka Salaberry e eu com Nicette Bruno. A edição do caderno e outras entrevistas ficaram sob minha responsabilidade.
Obs. 2: Memórias da Emília, de 1978, está disponível no Globo Play.
Obs. 3: as atrizes Suely Franco (de 2005 a 2006) e Bete Mendes (2007) também interpretaram Dona Benta.