A internet nos oferece diariamente cenas fantásticas. Pessoas que abandonam o trabalho e as pressões sociais, acreditando que a felicidade e o dinheiro, luxo, poder e status social não caminham lado a lado; homens e mulheres que abdicam de suas carreiras em prol do sonho de outros; gente que vive a desconstruir discursos elitistas e preconceituosos em busca de atribuir o protagonismo a quem de direito e, talvez o mais importante, equilibrar a equação de um mundo que ainda anda na corda bamba da meritocracia – o discurso mais absurdo possível na manutenção do status quo.
Acontece que a mesma rede mundial de computadores que nos alimenta o sonho de um mundo melhor destrói vidas, reputações e perpetua o discurso do “gente ruim merece o pior”, algo próximo do “quanto pior, melhor”. Diariamente.
As relações humanas parecem procurar no erro do outro a justificativa para os nossos próprios deslizes. Olho por olho, dente por dente. A versão 2.0 da lei de talião. A patrulha dos bons costumes, da gente de bem, se esquece de um mero detalhe: as sutilezas do discurso. Aí, aceitamos responder o ódio com ódio, a raiva com a raiva; isso quando não enxergamos o pelo na casca do ovo, negamos a nossa dificuldade de interpretação textual e significamos qualquer coisa que justifique nossa descarga de ira. O efeito manada.
“Queremos ser o Batman, porque os fins justificam os meios.”
Segundo o efeito manada, o importante é passar o rolo compressor por cima. Afinal, bandidos, corruptos, assassinos, gordos, nordestinos, prostitutas, gays, comunistas, esquerdistas, esse povo de “humanas”, isso aí não é gente. Querem o mal. E pior, querem tirar o direito sagrado da gente de bem ser considerada superior. Pena.
O ódio cega, vilipendia o sagrado feito de sermos iguais, perante a ninguém menos que nós mesmos. E isso, ah, isso sim é um crime. Não sou igual ao preconceituoso, diz o que acredita que bandido bom é bandido morto. Não sou o vilão, sou o mocinho. Queremos ser o Batman, porque os fins justificam os meios, principalmente quando nossos interesses mais excusos estão envolvidos. Fracassamos. Como povo, como nação e como humanos. É o triste fim de Policarpo Quaresma…