Esta semana estreou nacionalmente nos cinemas a adaptação da obra O Escaravelho do Diabo, da coleção Vaga-Lume. A série de livros teve muito peso na minha formação como leitor. São mais de 70 títulos que se tornaram referência em despertar o prazer da leitura em tantos jovens e adolescentes como um dia eu fui. Não sei ao certo quantos títulos eu tive a oportunidade de ler, mas sei que não foram poucos.
A linguagem bem conectada ao público infantojuvenil facilitava a relação com as obras, que nunca chegaram a atingir os números estratosféricos de um Harry Potter – são cerca de 7,5 milhões de exemplares vendidos em pouco mais de 40 anos de existência, segundo dados da editora Ática –, mas rabiscaram a personalidade de muitos que por suas páginas se aventuraram.
No meu caso, o contato com a coleção se desenhou a partir da sorte que tive de encontrar uma professora, dessas que o ensino é uma verdadeira missão de vida, que fazia questão de despertar em nós o prazer pela leitura. Apesar de falarmos de uma época em que os computadores ainda engatinhavam e a internet nem existia por aqui, inúmeros outros “chamados cotidianos” pareciam mais interessantes que perder-se em folhas com a história da Guerra de Canudos pelos olhos de um menino (A Aldeia Sagrada, de Francisco Marins), ou o rapto de um garoto recém lançado ao estrelato (O Rapto do Garoto de Ouro, de Marcos Rey).
Em suma, continuo acreditando que a leitura escancara o mundo ao leitor.
O fato é que minha professora de Português criou um sistema de pontuação em que, além de emprestarmos um livro obrigatoriamente na biblioteca da escola (nossos cartões de empréstimo eram conferidos), ela nos cobrava uma resenha sobre a obra, falada ou escrita, e que deu resultados. Veja bem, não havia internet ou resumos de fácil acesso; ela prestava atenção e verificava todos os dados. E assim estabelecemos uma relação de leitura e pontuação nas médias bimestrais. Alguns ultrapassaram ao longo do ano a marca de 100 livros. Outros leram bem menos, pouco mais de 10 obras, mas tinha colega nessas condições que leu Júlio Verne. Na minha lista, A Ilha Perdida, O Escaravelho do Diabo, Açúcar Amargo e tantos outros.
Como quase toda minha formação foi feita em escola pública, essa é uma história que conto repleto de orgulho. Claro, havia competição entre os colegas (e não apenas entre os “nerds”), gostávamos da cara de satisfação da professora em ver nossos esforços e, por último mas não menos importante, a pontuação extra ao fim do bimestre contava muito.
Em suma, continuo acreditando que a leitura escancara o mundo ao leitor. Continuo acreditando que é possível uma escola pública de qualidade. Continuo acreditando que eu posso ler mais, pois há mais tempo que vida. Eu continuo acreditando, e só pararei o dia em que eu, como livro da vida, tiver chegado ao fim. Até lá, continuo acreditando. E lendo.