Já contei aos meus nobres leitores neste espaço sobre minha relação conflituosa com o futebol, coisa de tapas e beijos. Falar para um torcedor de qualquer clube que a vibração durante o momento de explosão maior do esporte bretão já foi muito mais que levantar os braços para o céu, por incrível que pareça, não é das tarefas mais simples.
Ainda tivemos uma breve recordação destes momentos quando o menino Neymar ainda desfilava seus penteados em solo brasileiro, mesmo que fosse uma fase já adaptada ao novo cenário sertanejo-universitário do nosso futebol, flertando com a tal modernidade europeia.
Os gramados deste país já vivenciaram momentos ímpares de festejo ao balançar as redes, e desse período, confesso, sinto saudade.
Os gramados deste país já vivenciaram momentos ímpares de festejo ao balançar as redes, e desse período, confesso, sinto saudade. Havia toda uma preparação para que o gol fosse muito mais que simplesmente um gol. Em alguns momentos, chego a crer que os jogadores brasileiros passavam mais tempo ensaiando seus passos e coreografias do que treinando para aperfeiçoar sua técnica. Pelo menos é uma boa maneira para justificar a década de 1990 e Sebastião Lazaroni comandando a Seleção.
Tudo era sempre muito animado. Havia pescaria, passinho de funk e soul, máscaras, comemorações temáticas (coelhinho no dia dos pais, Papai Noel próximo ao Natal, etc), imitações de animais e por aí vai. Mas, como sempre na vida, uma hora isso começou a mudar. Do gol de Bebeto na Copa do Mundo de 1994 e sua comemoração em homenagem ao filho recém-nascido, passamos a acompanhar a mimetização das celebrações. Não é absurdo pensar que a falta de criatividade fora de jogo tem relação com a perda do futebol moleque, a extinção do boleiro.
Passamos pela corrida de braços abertos, a escorregada de joelhos próximo à bandeira de escanteio, levantar a camisa e cobrir o rosto, mandar a torcida adversária se calar, o aviãozinho do Zagallo, até tropeçarmos no dízimo dos atletas de Cristo, porque só isso justifica a quantidade de erguidas de braço em direção ao céu.
Até o icônico gesto de beijar o escudo do clube como demonstração de amor à equipe, que se não era criativo ao menos demonstrava laços entre jogador e equipe, tornou-se blasé, démodé e outros tantos é’s que meu limitado francês não consegue definir. Quem imaginaria que um dia eu escreveria: “ai, que saudade do Viola e do Paulo Nunes”. Tempo de futebol exageradamente moderno.