Já que o caixa da cafeteria era meio estreito, resolvi pagar primeiro, para depois solicitar o café no balcão, que fica a dois passos de distância. Como fui contemplado com o dom do estabanamento, achei por bem evitar apoiar o copo ali naquele pequeno espaço e correr o risco de dar um banho quente na maquininha de cartão.
– Bom dia, por favor, me cobra um café aqui que depois eu pego ali com a moça.
– Não posso.
– Como?
– Primeiro o senhor precisa pegar o café no balcão e depois o senhor volta aqui e paga.
– Como assim “volta aqui”? Não tem nem meio metro de distância, é só esticar o braço.
– Primeiro o senhor…
– Mas tá vazio. É que tem pouco espaço pra apoiar o café aqui e aí eu nem vou conseguir pegar a carteira direito e…
Virei as costas e saí de lá sem comprar nada e sem olhar para trás, com a postura falsamente segura daqueles que carregam o orgulho ferido.
O atendente bufou, arregalou os olhos e me interrompeu em tom didático:
– Primeiro… o senhor… precisa… pegar…
– Então enfia esse café no meio do seu cu, seu filho da puta do caralho. Eu pensei. Ok. Eu disse.
Virei as costas e saí de lá sem comprar nada e sem olhar para trás, com a postura falsamente segura daqueles que carregam o orgulho ferido.
Mas isso não ia ficar assim, ah, mas não ia mesmo. Comprei café pra viagem duas quadras adiante e fiz questão de passar na frente da cafeteria para que o atendente lazarento visse que havia perdido um cliente.
Ele estava atendendo uma moça, então eu diminui o passo preparando para dar um golão no café bem na hora em que o atendente olhasse.
Ele continuou atendendo, a guria estava sorrindo. Coitada, havia cedido ao joguinho ardiloso de síndrome do pequeno poder dele.
Diminui a velocidade ainda mais.
Nem uma olhadinha.
Meus movimentos já estavam em super slow motion e nada do desgraçado olhar.
Quando os pedestres começaram a desviar de mim com cara de assustados acabei desistindo.
Contudo segui em frente sem me deixar abalar, mantive a cabeça erguida, fitei o horizonte com cara de vencedor e tomei um gole do café. Já estava frio.