– Joaquim! Deu merda na máquina de lavar roupa.
– Mais essa agora? Cada semana é uma coisa que quebra nessa casa?
– Vem me ajudar, pelo amor de Jeová!
Foi até a área de serviço. A máquina pulava como a Carla Perez dançando no É o Tchan em 1997.
– Ela enlouqueceu, Joaquim! Não desliga mais no botão, a gente vai ter que tirar da tomada.
– Mas tirar da tomada como, criatura? A tomada fica atrás dela, não dá pra puxar com a máquina pulando desse jeito.
– Tem que dar.
– Como?
– Você vai ter que montar nela.
– Quê?
Apoiou na parede, estupefato.
– Vem me ajudar, pelo amor de Jeová!
Foi até a área de serviço. A máquina pulava como a Carla Perez dançando no É o Tchan em 1997.
– Você monta nela, tipo touro mecânico. E tenta chegar na tomada.
– Touro mecânico? Sofia, você perdeu o juízo? Eu tenho 77, mal consigo montar em você tomando Viagra.
– Você olha essa boca, Joaquim!
– O que é isso que tá saindo da tampa?
Era espuma. Saía de dentro da máquina numa velocidade um pouco assustadora.
– Vai fechar o registro, Joca!
Ele saiu correndo – como podia. Voltou.
– E aí?
– E aí que o registro não fecha nem com macumba.
A espuma já estava invadindo a cozinha.
– Como a gente é! É só desligar a energia.
– Pois eu não vou descer até o porão pra mexer no disjuntor. Já tinha pensado nisso.
– Velho cagão.
– Não é medo, aquele lugar me traz más lembranças.
– Sei.
– Então vai você lá, corajosa.
Ela foi correndo – como podia. Voltou.
– Não consegui, tenho quase certeza que vi um rato passando logo que eu entrei.
– Quase certeza…
– Você não vem querer tirar sarro de mim porque pelo menos eu tive coragem de ir até a entrada.
– O gato!
A espuma já estava no meio da cozinha e agora cobria o gato do casal, surpreendido enquanto cochilava.
– Vem, bichano! Sai dessa espuma. Ai, coitadinho! O que a gente faz?
Não fizeram. Observaram, desesperados, a espuma tomar conta de toda a casa. Cobriu os móveis, a televisão, a coleção de discos do Roberto Carlos. Só sobrou o rádio, que ficava no alto, em cima da geladeira.
Algumas horas depois, a máquina parou.
– Morreu! Morreu a máquina!
– A gente podia morrer também, já que não sobraram motivos pra continuar vivendo.
– Que horror, Joaquim! Pelo menos acabou.
– E toda a nossa casa cheia de espuma? E a máquina que pifou? A gente vai tirar dinheiro de onde pra recuperar a porra toda?
– Calma.
Ficaram parados, pensativos. Nem o bichano tinha reação.
Joaquim caminhou até a porta.
– Onde você vai, Joca?
– Vou ganhar dinheiro pra recuperar as nossas coisas.
– Você não vai se envolver com traficante, não, né? Foi certinho a vida toda, agora depois de velho vai inventar moda.
– Não, Sofia, eu não vou. Liga o rádio no último, vou falar com os vizinhos e conseguir convidados para a nossa festa.
– E que festa?
– Festa da espuma. 50 reais a entrada.
Sofia, vagarosamente, fez que sim com a cabeça enquanto Joaquim saía. Ligou o rádio no último volume e apagou a luz.