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Home Crônicas Helena Perdiz

No metrô

porHelena Perdiz
22 de fevereiro de 2018
em Helena Perdiz
A A
"No metrô", crônica de Helena Perdiz.

Imagem: Reprodução.

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Conseguiu pegar o celular do bolso: 68 chamadas perdidas. Ligou para o chefe.

– Alô, Silva?

– Hugo? Tá tudo bem? Tô ligando pra você desde hoje cedo.

– É, eu vi aqui as chamadas.

– Você tá bem?

– Olha, poderia estar melhor.

– Você não deu as caras, não falou nada, a gente ficou preocupado. O que você tem?

– Eu tô preso no metrô.

O chefe não respondeu.

– Silva? Tá aí?

– Sim. Eu só não entendi.

– Eu tô preso no metrô.

– Mas preso como?

– Tô aqui dentro, tem tanta gente que eu não consigo sair.

– Mas são 17 horas, o que aconteceu de manhã pra você não vir trabalhar?

– Eu estava preso no metrô.

– Hugo, você não está falando coisa com coisa. Se quiser me ligar depois…

– Não, chefe! É coisa com coisa! Tô falando a verdade, eu entrei e não consigo mais sair porque, nossa senhora, é muita gente!

A ligação caiu. Ligou novamente.

– Oi, Silva! Muito ruim o sinal aqui. Mas então, não é mentira, meu carro não pegou hoje cedo e eu resolvi ir de metrô.

– Mas isso que horas?

– Oito! Oito horas. Fui direto pra Sé.

– Ainda não entendi. Você entrou no metrô às oito da manhã?

– Isso! Você entendeu, sim. É isso.

– E você está dentro do mesmo metrô agora, cinco da tarde?

– Exatamente.

– Mas não é possível!

– É possível, Silva, você não faz ideia do que é isso aqui. Parece apocalipse zumbi, mas com as pessoas vivas, eu não consigo nem explicar. Já até chorei.

– Eu já entrei no metrô, Hugo.

– Então você me entende!

– Só que quando chegou na estação que eu precisava ir, eu saí.

– É esse o problema: não dá!

Deu uma cotovelada no moço que estava na frente.

– Eu tô preso no metrô.
– Mas preso como?
– Tô aqui dentro, tem tanta gente que eu não consigo sair.
– Mas são 17 horas, o que aconteceu de manhã pra você não vir trabalhar?
– Eu estava preso no metrô.

– Não dá, Silva, simples assim. Da primeira vez que eu tentei sair, abriu a porta do outro lado, não tinha como chegar ali, entendeu?

– Mas era só esperar algumas pessoas descerem.

– Acontece que entraram outras pessoas ao mesmo tempo! Aí tá assim o dia todo: saem 30, entram 300, eu vou fazer o quê?

– Hugo…

– Eu não conseguia nem pegar o celular pra ligar pra você, porque não dava pra me mexer. Agora eu consegui, não sei como.

– Na próxima estação, vai empurrando todo mundo até chegar na porta. E sai daí!

– Só que tem umas velhinhas, né? Dá medo de machucar, não dá pra ser assim, também.

– Hugo, todo mundo é assim, no metrô é cada um por si.

– Eu acho isso um pensamento muito egoísta, me desculpe ser sincero com o senhor.

O chefe começou a rir.

– Eu tô pensando em esperar passar o horário de pico. Um homem que eu conversei falou que lá para as 20 horas esvazia.

– E onde está o homem agora?

– Ele desceu.

– E por que você não desceu junto? Segurasse nele.

– Porque eu não pensei nisso. E, pensando agora, não era a minha estação.

– Mas não existe mais sua estação! Você só precisa sair, Hugo, desce em qualquer uma e pega um Uber!

– Silva, me perdoe, mas eu não me sinto preparado, ok? Preciso que você respeite o meu momento.

– Hugo, faz o que você quiser. Você já perdeu o dia de trabalho. Amanhã a gente vai conversar sério.

– Tudo bem.

– Só me avisa quando conseguir sair daí. Porque eu vou contar essa história pra todo mundo e vou precisar saber qual é o fim.

– Sim, eu aviso.

Desligou.

Às 20 horas, ligou novamente.

– Oi, Silva! Hugo de novo.

– E aí, saiu?

– Acredita que o metrô quebrou? Tudo parado, tudo apagado, já faz umas duas horas. Eu deveria ter segurado naquele homem, mesmo.

Tags: celularchefeCrônicaestaçãoMetrôSéUberZumbi

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